"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 16 de maio de 2015

HÁBITO, VIRTUDE E CHANTAGEM

SÃO PAULO - A democracia nunca funcionou tão bem no Brasil. Pela primeira vez desde Floriano Peixoto, o Senado sabatinou para valer um indicado ao STF. 
Projetos apresentados pelo governo estão sendo discutidos nos detalhes, negociados e eventualmente alterados (não entro aqui no mérito das modificações aprovadas). 
Mais do que isso, o Parlamento bloqueou tentativa de Dilma Rousseff de legislar por decreto, rejeitando uma MP por não apresentar as exigências constitucionais de relevância e urgência. 
Há em operação várias CPIs que incomodam a Presidência.

Esse seria um cenário róseo em termos institucionais, não fosse o fato de que as coisas só estão funcionando por uma conjunção de fatores que tem muito mais de farsa que de epopeia. Dilma venceu o pleito recorrendo a mentiras que logo cobraram seu preço. 
Os eleitores perceberam o engodo e a popularidade da presidente despencou, resultando num governo anormalmente fraco.

Mais decisivo, os dois presidentes do Legislativo, o deputado Eduardo Cunha e o senador Renan Calheiros, tiveram seus nomes incluídos nas investigações da Lava Jato. 
Reagiram a isso partindo para o ataque e estão se dando bem, porque encontraram um governo politicamente derrubado, uma base aliada sempre disposta a arrancar cargos e verbas e uma oposição afoita para criar o máximo de dificuldades para Dilma Rousseff.

Vale perguntar-se se ações políticas só são legítimas se realizadas pelas razões certas (pelo sentido do dever, se é lícito usar o vocabulário kantiano) ou se podem também sê-las mesmo que motivadas por instintos, digamos, mais primitivos. Obviamente, eu gostaria que o primeiro cenário predominasse sempre, mas não desprezaria avanços institucionais alcançados de forma não tão recomendável. A crer em Aristóteles, é possível tornar-se virtuoso apenas habituando-se a fazer a coisa certa, independentemente das motivações.



16 de maio de 2015
Hélio Schwartsman

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