"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 20 de março de 2015

UNASUL, VENEZUELA E SAMPER

NOTÍCIAS FALTANTES - FORO DE SÃO PAULO

A UNASUL fundou-se em Brasília. Luis Inácio Lula da Silva, aliado incondicional de Chávez, presidiu a reunião com base em uma proposta de Evo Morales, um dos promotores-chave da autocracia eleitoral.

O verdadeiro objetivo da UNASUL, União de Nações Sul-americanas, nunca foi o manifestado por seus promotores, que afirmavam que o projeto tinha como propósito trabalhar a favor da integração econômica e social dos países mais meridionais do continente, enquanto promovia a formação de uma identidade cidadã transnacional.

O desígnio era instrumentalizar um bloco político no qual um grupo de governos, identificados com o plano expansionista que Hugo Chávez encarnava, dispusesse da capacidade de pressionar e influenciar politicamente nas decisões das nações que se somaram ao bloco regional.

Os organizadores estavam convencidos de que seu discurso populista, integracionista e anti-americano pressionaria o resto dos países da região a se incorporar, embora alguns desses governos discordassem das propostas políticas e econômicas do chavismo. Tampouco lhes inquietava ser minoria na entidade. Estavam convictos de que integravam um núcleo sólido, com interesses comuns e com capacidade de influenciar e/ou pressionar até conseguir decisões que favorecessem suas maquinações.

A UNASUL fundou-se em Brasília. Luis Inácio Lula da Silva, aliado incondicional de Chávez, presidiu a reunião com base em uma proposta de Evo Morales, um dos promotores-chave da autocracia eleitoral.

O desaparecido mandatário venezuelano foi seu principal iniciador. Chávez gestou a Aliança Bolivariana das Américas, ALBA, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, CELAC, e o canal de televisão TeleSul, um meio de comunicação no qual os gestores do Socialismo do Século XXI manipulam as informações à sua conveniência.

Chávez tinha recursos econômicos para apoiar seu projeto hegemônico. À diferença de Fidel Castro que tentou impor-se à força de balas e bombas, o golpista venezuelano o tratou com petro-dólares. Dilapidou as riquezas venezuelanas para comprar consciências e desestabilizar as democracias.

A sede de UNASUL está em Quito, Equador, um país cujo presidente Rafael Correa, um déspota, é partidário da re-eleição indefinida, enquanto exerce um férreo controle sobre os meios de informação e manifesta um profundo desprezo pelos que não compartilham de suas idéias. A presidência ocupada por um mandatário dos países-membros por um ano de maneira sucessiva é simbólica, pois o controle na realidade tem o Secretário-Geral.

As decisões dos quatro secretários-gerais que a UNASUL teve favoreceram os governos que integram o projeto do Socialismo do Século XXI, em particular o regime venezuelano. O primeiro secretário foi o populista e ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Sua relação com Chávez foi muito estreita, tanto que o mandatário venezuelano dedicou sua vitória eleitoral de 2012 a Raúl Castro e ao casal Kirchner - Néstor já havia falecido.

Depois, a posição foi ocupada por María Emma Mejía, política colombiana. Sua imparcialidade para mediar nas discrepâncias dos países-membros e em particular para avaliar a situação interna da Venezuela, se aprecia nestas declarações: “Pode ser que Chávez tenha mudado a América Latina em uma década, é indubitável que nesta década nosso continente nunca mais será igual”. Foi substituída pelo venezuelano Ali Rodríguez Araque. Um antigo guerrilheiro marxista, homem de confiança de Chávez, ao extremo que ocupou várias das pastas de governo mais importantes.

O atual executivo é o ex-mandatário colombiano Ernesto Samper, um político muito controverso cujo período presidencial, 1994-1998, foi particularmente instável. Samper foi acusado de haver financiado a campanha eleitoral com dinheiro do narcotráfico. Foi processado pela Câmara de Representantes, porém as acusações foram retiradas.

A reação do governo dos Estados Unidos foi forte. Em uma decisão sem precedentes contra um presidente em funções, retirou de Samper o visto de entrada no país, enquanto negava ao governo colombiano a certificação de luta contra a droga, uma sentença que implicava a cessação da ajuda econômica e militar de Washington.

Os antecedentes de Samper o invalidam para dirigir uma organização internacional e suas recentes declarações de que a UNASUL está pronta para apoiar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o anulam como mediador.

O compromisso da UNASUL com o despotismo se reafirmou em Montevidéu, Uruguai, quando os chanceleres do grupo qualificaram as sanções dos Estados Unidos a funcionários venezuelanos corruptos, como uma agressão a esse país. Declarar que as sanções norte-americanas afetavam a estabilidade do hemisfério é uma falácia, como se Maduro e sua corrupta corte fossem a nação venezuelana.

Depois de expressar seu apoio a Maduro, Samper está desqualificado para arbitrar um diálogo entre os representantes sociais, partidos políticos e o governo venezuelano. Sua liderança está parcializada. É falso que na Venezuela exista divisão de poderes como declarou. Ele não visitou os presos políticos durante sua estada e tampouco se reuniu oficialmente com a Mesa de Unidade Democrática (MUD), o que demonstra que é um servidor dos interesses de Maduro e não da democracia venezuelana.

19 de março de 2015
PEDRO CORZO
Tradução: Graça Salgueiro

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