Com 13% da água potável disponível no planeta, o Brasil não está em posição confortável frente às nações. Pelo menos 40 milhões de brasileiros enfrentam a escassez do insumo. Em todo o mundo, 748 milhões de pessoas sofrem os rigores da seca. Rever o padrão de consumo é exigência antiga, sempre relegada a plano inferior. Hoje, a mudança de comportamento é condição sine qua non para evitar colapso global. A advertência está expressa no relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), divulgado na sexta-feira, alusivo ao Dia Mundial da Água, comemorado hoje.
As projeções da Unesco são preocupantes. Mantido o padrão de consumo, em 15 anos (2030), o mundo enfrentará deficit de 40% na oferta de água. Em proporção inversa, a previsão é que a população global chegue a 9,6 bilhões de pessoas em 2050. Somente entre os países que compõem o grupo dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul - e a Indonésia, a necessidade de água passará de 1.800km³ para 3.300km³. No mundo, o uso crescerá de 3.500km³ para 5.500km³.
A estimativa é de que a indústria e o setor elétrico tenham maior consumo nos próximos 35 anos. A agricultura, hoje apontada como a que mais utiliza o recurso nas culturas irrigadas, será beneficiada pelos avanços tecnológicos, que levarão a maior produtividade com menor demanda hídrica. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trabalha para tornar real a mudança por meio, sobretudo, de melhoramento genético das espécies. O esforço brasileiro soma-se ao de outras instituições internacionais de pesquisa que perseguem o mesmo objetivo.
No Brasil, como de resto em todas nações, será preciso rever a governança dos recursos hídricos disponíveis, como sugere a Unesco. A crise dos últimos cinco anos - primeiro com a estiagem no Nordeste e, mais recentemente, com menos chuva no Sudeste - mostrou que incorremos em profundo engano ao acreditar que nosso país não passaria por tamanhas limitações. Hoje, não há outro caminho senão o da racionalidade para nos desviarmos da plena escassez. Na edição de hoje, o Correio traz um caderno especial sobre o tema. Especialistas sugerem que o poder público e os cidadãos levem a sério recomendações como o reúso, a captação e armazenamento de água da chuva.
No Brasil, para que a gestão dos recursos hídricos tenha sucesso, impõe-se associá-la, por um lado, a programas que levem à mudança de hábitos dos cidadãos e, por outro, à política ambiental voltada para a preservação da flora e dos mananciais. O descumprimento da legislação compromete a efetiva proteção dos ecossistemas. As punições brandas ou até a ausência delas são estímulos à degradação do patrimônio natural, com impactos danosos às nascentes. O engajamento dos setores organizados da sociedade é indispensável para reverter a preocupante situação enfrentada pelo país. O Dia Mundial da Água não é 22 de março. São todos os dias do ano para que a vida não se despeça da Terra.
22 de março de 2015
Editorial Correio Braziliense
As projeções da Unesco são preocupantes. Mantido o padrão de consumo, em 15 anos (2030), o mundo enfrentará deficit de 40% na oferta de água. Em proporção inversa, a previsão é que a população global chegue a 9,6 bilhões de pessoas em 2050. Somente entre os países que compõem o grupo dos Brics - Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul - e a Indonésia, a necessidade de água passará de 1.800km³ para 3.300km³. No mundo, o uso crescerá de 3.500km³ para 5.500km³.
A estimativa é de que a indústria e o setor elétrico tenham maior consumo nos próximos 35 anos. A agricultura, hoje apontada como a que mais utiliza o recurso nas culturas irrigadas, será beneficiada pelos avanços tecnológicos, que levarão a maior produtividade com menor demanda hídrica. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trabalha para tornar real a mudança por meio, sobretudo, de melhoramento genético das espécies. O esforço brasileiro soma-se ao de outras instituições internacionais de pesquisa que perseguem o mesmo objetivo.
No Brasil, como de resto em todas nações, será preciso rever a governança dos recursos hídricos disponíveis, como sugere a Unesco. A crise dos últimos cinco anos - primeiro com a estiagem no Nordeste e, mais recentemente, com menos chuva no Sudeste - mostrou que incorremos em profundo engano ao acreditar que nosso país não passaria por tamanhas limitações. Hoje, não há outro caminho senão o da racionalidade para nos desviarmos da plena escassez. Na edição de hoje, o Correio traz um caderno especial sobre o tema. Especialistas sugerem que o poder público e os cidadãos levem a sério recomendações como o reúso, a captação e armazenamento de água da chuva.
No Brasil, para que a gestão dos recursos hídricos tenha sucesso, impõe-se associá-la, por um lado, a programas que levem à mudança de hábitos dos cidadãos e, por outro, à política ambiental voltada para a preservação da flora e dos mananciais. O descumprimento da legislação compromete a efetiva proteção dos ecossistemas. As punições brandas ou até a ausência delas são estímulos à degradação do patrimônio natural, com impactos danosos às nascentes. O engajamento dos setores organizados da sociedade é indispensável para reverter a preocupante situação enfrentada pelo país. O Dia Mundial da Água não é 22 de março. São todos os dias do ano para que a vida não se despeça da Terra.
22 de março de 2015
Editorial Correio Braziliense
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