"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 29 de março de 2015

O BRASIL NA IDADE MÉDIA PARLAMENTAR

 




 
A notícia é que está avançando na Câmara dos Deputados e emenda constitucional que propõe a redução da maioridade penal para 16 anos no Brasil. É um desejo antigo de parte do Parlamento e, consequentemente, de nossa sociedade. A PEC em questão, por exemplo, é de 1993.
Na época em que o “pai da criança” pôs sua “eureca!” no papel, o Brasil tinha 90 mil encarcerados.
De lá para cá, esse número cresceu algo em torno de 550% segundo o Depen. E olha que essa massa aí, quase do tamanho da população de Contagem, é formada só por cidadãos acima de 18 anos. Se desde a década de 90 a meninada de 16 e 17 pudesse ser condenada ao xadrez, qual seria o montante? O crescimento vertiginoso dessa população nos garantiu um país mais seguro?
 
Nasceu do mesmo seio paterno da Câmara a nota de repúdio à nova novela das nove da Globo. Segundo quem assistiu a alguns trechos, o folhetim eletrônico é pródigo em agressões, bofetadas, intrigas, traições e outros itens do cardápio dos infernos.
Mas o que incomodou os nobres parlamentares, defensores dos bons valores da família, foi o beijo lésbico entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg.
 
Expressões amiúde de ódio, inveja e ciúme, ainda que dramatúrgica, não motivaram mobilização, ao contrário da expressão de amor (também cênica) das duas senhoras. Detalhe: a cena de parricídio provocado por ganância, no último capítulo da novela anterior, também “ficou por isso mesmo”.
 
INTERVENÇÃO MILITAR
 
Os dois debates vêm à tona alguns dias depois de algumas figuras desfilarem pelas ruas pregando o golpe às instituições democráticas e a intervenção das Forças Armadas no governo federal. As passeatas de 15 de março não tiveram unanimidade de credo, mas revelaram a convicção de muitos que, ignorantes, deveriam guardar suas vergonhas em seus guarda-roupas, ou, fascistoides, poderiam se satisfazer com o fato de gozarem de suas liberdades civis.
 
Um belo dia, acordamos e não conseguimos nos reconhecer na sociedade que integramos. Éramos cegos ou passamos, realmente, por um momento de transformação? Quais serão os próximos pontos da pauta? Volta da isenção ao homicídio por honra? Limitação mínima do comprimento das saias? Proibição de demonstrações de afeto entre pessoas do mesmo sexo em público, incluindo pais e filhos? Áreas de convívio restritas a cidadãos brancos?
 
Revogação da Lei Áurea e da Constituição laica? Dissolução do Congresso? Esta última, não, pois os cavaleiros cruzados perderiam sua tribuna.
 
BANCADA BBB
 
Dizem por aí que essa sombra crescente no Parlamento responde pela alcunha de bancada BBB: Bíblia, Boi e Bala (a ordem dos fatores etc…). Seus integrantes não entraram lá por força, metendo o pé na porta. Sim, eles representam parte do nosso povo. E é ungidos por esses eleitores que os parlamentares BBB, se deixarem, implantarão no país uma espécie de “sharia neopentencostal”. Fiquemos vigilantes. Se o caso é BBB, salve Jean Wyllys!
 
29 de março de 2015
João Gualberto Jr.
O Tempo

Nenhum comentário:

Postar um comentário