"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 4 de janeiro de 2015

NO PULEIRO DO CIRCO

 


“Filho é como peido. Você só aguenta o seu.”
(Adágio Popular)
O circo foi palco desta história que tem uma coincidência que a tornou tragicômica. 
Aquele pequeno seridoense era rebelde, traquinas, levado, teimoso, indisciplinado, impossível (como dizia a finada minha mãe), aliás, sintetizando: ele era uma peste. 
E todos esses adjetivos eram usados pela população da cidade, quando se referia àquele moleque.
Eis que chegou um circo na cidade de Currais Novos onde ele morava, revolucionando tudo e todos, principalmente a garotada, inclusive o nosso endiabrado personagem. 
Ele, entretanto, além de ficar excitado com a possibilidade de assistir aos espetáculos circenses, também resolveu ganhar um dinheirinho extra, usando o circo. 
Aquele garoto só usava a imaginação para “aprontar”. 
E o moleque fazia o quê? 
Simplesmente, burlando os seguranças, ele passava por baixo do arame que cercava o circo, entrava por baixo da lona, saía na porta principal, recebia o ingresso, vendia lá fora e repetia tudo outra vez. 
A operação foi um sucesso até a noite em que os seguranças o pegaram em flagrante. 
Deram-lhe uns safanões e, o que mais o revoltou, tomaram o seu dinheiro. 
Ele ficou possesso com o que lhe fizeram. 
Estava liso, com as orelhas ardendo, com a sua operação desbaratada e o seu amor-próprio ferido. 
E resolveu, mesmo na desvantagem, ir à desforra. 
Com o espetáculo em plena atuação, ele catou uma banda de tijolo, escolheu aleatoriamente o perfil de uma coluna vertebral que estava encostada na lona, na parte dos poleiros, e a atirou com toda a força que a sua raiva podia impulsionar.
Em seguida, se mandou para casa.
No dia seguinte, ele acordou e viu uma cena que o assustou: o seu pai, andando atravessado e puxando uma perna. 
O velho estava mais torto do que o gato da Zinebra. 
Lembra-se do desenho de um gato preto e torto que havia no rótulo da garrafa de Zinebra? Não? 
Lembra-se daquele personagem de Victor Hugo, Quasímodo, da famosa história “O Corcunda de Notre Dame”? 
O velho amanheceu mais torto do que Quasímodo.
O que aconteceu, papai? – perguntou admirado o filho.
Um filho da puta me acertou uma pedra, ontem à noite, no circo – respondeu o tortuoso pai.
 
04 de janeiro de 2015




Ciduca Barros

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