"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 9 de novembro de 2014

SAMY ADGHIRNI E A SEM-VERGONHICE EM PROL DO BOLIVARIANISMO

Media Watch - Folha de S. Paulo

Uma mídia que não se envergonha de usar recursos como os de Adghirni já nos ajuda a demonstrar o que é morar em um país vivenciando fases intermediárias do bolivarianismo.

Se olharmos a estratégia de guerra dizendo para “bater onde dói”, há um ponto que incomoda muito os bolivarianos: chamá-los pelo nome e explicar ao povo o que isso significa.
Observem as reações deles: sempre começam a se explicar, ficando na defensiva. Eles não fazem o mesmo se os chamamos de comunistas, pois o senso comum percebe isso como muito fora da realidade.
Como disse um leitor, “bolivariano” está mais próximo dessa geração, enquanto “comunismo” fica aparentemente na História, nos livros. Hoje em dia, até mesmo Vladimir Putin quer parecer democrático, por isso é fácil para eles ridicularizarem o rótulo “comunista”. Mas se olhamos para Argentina, Venezuela, Bolívia e Cuba, veremos o bolivarianismo fervilhar e fazer estragos nas sociedades.
Exatamente por isso, essa gente vai tentar truques cada vez mais grotescos para escapar deste rótulo.
Samy Adghirni é o substituto de Vladimir Safatle no UOL, O petista está de férias. Daí arrumaram outro tão embusteiro quanto.
Seu primeiro texto no portal é “Venezuelização?”. Algumas pessoas me falaram: “E aí, Luciano, como responder esse texto?”.
A resposta é conhecer os estratagemas do oponente. Arthur Schopenhauer fez um ótimo trabalho ao escrever sua Dialética Erística, na qual o alemão fez um mapeamento de 38 embustes usados para se vencer um debate sem ter razão.
O primeiro dessa lista é a ampliação indevida, que é exatamente o recurso usado por Adghirni em todo o texto. Essencialmente, exagera-se a afirmação de um oponente para além dos limites naturais da afirmação. O picareta passa a refutar essa versão exagerada, fingindo ter refutado a afirmação original”. É uma especialização da falácia do espantalho.
O truque de Adghirni é só isso e nada mais.
Enquanto todos sabem o que significa o bolivarianismo,  ele diz que se não existe tamanho nível de sucesso em sua implementação, conforme no país de Maduro, então não temos bolivarianismo de forma alguma.
Duvidam?
Então vamos desconstruir o conteúdo de Adghirni:
Antipetistas alardeiam a ideia de que a reeleição de Dilma Rousseff abre caminho para o Brasil se tornar uma Venezuela. Isso é improvável. Apesar dos arroubos retóricos, Lula e Dilma nunca emularam o chavismo.
Aqui ele já entra em contradição consigo próprio ao reconhecer que os antipetistas dizem “que a reeleição de Dilma Rousseff  abre caminho para o Brasil se tornar uma Venezuela”. Mas em seguida, diz que “Lula e Dilma nunca emularam o chavismo”.
Muita calma nesta hora! A segunda afirmação só seria válida se a primeira falasse de antipetistas dizendo “que a reeleição de Dilma Rousseff consolida o processo bolivariano no mesmo estágio da Venezuela atual”. Mas ninguém afirmou isso. Como ele mesmo disse, a afirmação criticada é um alerta em relação ao início do projeto bolivariano, não em relação à sua conclusão definitiva, o que não ocorre nem na Argentina ainda.
Note que já no primeiro parágrafo comprova-se que ele exagerou a afirmação do oponente para fingir ter refutado a afirmação original.
Hugo Chávez trabalhou desde sua chegada ao poder, em 1999, para pulverizar tudo o que existia antes dele. A Venezuela mudou de Constituição e de nome, tornando-se república bolivariana. O PT nunca foi revolucionário, embora Lula defenda uma constituinte para reforma política.
A constituinte para reforma política, como qualquer pessoa intelectualmente honesta sabe, é um pretexto para uma assembleia constituinte. Ou seja, o projeto é exatamente o mesmo. E, obviamente, sabemos que não é preciso de assembleias constituintes para se fazer reforma política.
Quanto a dizer que “O PT nunca foi revolucionário”, faltou só ele combinar o jogo com o próprio partido, que lançou uma resolução política 100% bolivariana.
A diferença é que Chávez trabalhou desde sua chegada ao poder, em 1999, para pulverizar tudo o que existia antes dele. O PT apenas está tentando isso, sem conseguir o mesmo resultado.
O petismo permeia órgãos federais, mas nada se compara ao aparelhamento à venezuelana. Chávez fechou o cerco à oposição até sufocar os que tentaram um golpe de Estado contra ele.
Não se compara? Nem mesmo quando vemos os Correios usando o horário de trabalho para fazer campanha política? E que tal o governo usando o cadastro de beneficiários do Minha Casa Minha Vida para fazer terrorismo eleitoral? Quem Adghirni quer enganar?
O desajeitado Nicolás Maduro herdou essa bomba relógio institucional. Acuado por protestos neste ano, recorreu a bandos armados irregulares, os “coletivos”, para esmagá-los. Saldo: 42 mortos. Bem diferente de junho de 2013.
Coitado de Maduro, não? É um “desajeitado”. Mas quem está na prisão é Leopoldo Lopez. Esse é outro truque de dissimulação de Adghirni: tratar monstros dissimulados como “coitados desajeitados”.
É claro que não é tão fácil para o governo petista fuzilar oponentes. Temos uma mídia livre… ainda. Coisa contra a qual o PT luta o tempo todo.
Lula passou os dois mandatos construindo pontes –com a classe média, com o empresariado e com velhos rivais. Falta a Dilma essa veia conciliadora, mas ela manteve o arcabouço republicano e evita guerrear a oposição.
Estamos notando como Dilma evita “guerrear a oposição”. Chamando-os de “golpistas” e usando artigos financiados pelo governo para difamar opositores. Adghirni é comediante.
Dilma, aliás, reflete a institucionalidade brasileira. Apesar de sua força política, Lula resistiu à tentação de atropelar a Constituição para concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Chávez não teve esses pudores. Enquanto o chavismo governa por decreto, o Planalto continua refém do Congresso.
Mas por que esse sujeito acha que o PT quer assembleia constituinte? Sim, eu sei que ele não acha nada do que está escrevendo. É puro cinismo mesmo.
Aliás, qual é o nome da presidente que escreveu o decreto 8243? Aha…
Se a economia brasileira preocupa, a do vizinho está em vias de colapso, com inflação a 63%, reservas minguantes e desabastecimento geral. Mercados temem um default no pagamento dos títulos da dívida venezuelana.
Como sempre, a ampliação indevida. É assim: se um vampiro bebeu todo o sangue de uma vítima, mas apenas 1 litro de outra, esta última não foi vítima de um vampiro. É um estupro contínuo da lógica.
Lula e Dilma não só deram continuidade a políticas econômicas dos governos anteriores como rejeitaram o modelo venezuelano de controle cambial, expropriação e subsídios em larga escala.
É que um está em fase inicial do processo e precisa construir alianças, e o outro em fase final do processo, e não precisa se aliar com um PMDB da vida por exemplo.
No Brasil, acusações de corrupção são investigadas e passíveis de cadeia. Na Venezuela, é impensável ver presos governistas do nível equivalente a José Dirceu e José Genoino.
Mas já vemos coação violentíssima dos governistas contra brasileiros como Joaquim Barbosa e Sérgio Moro. E sabemos que a condenação de Dirceu e Genoino mexeu com o brio dos petistas, por isso estão mais assanhados que de costume em prol da censura de mídia e dos decretos para coletivos não-eleitos.
O quarto mandato petista está sujeito a retrocessos. Menções à regulamentação da mídia não condizem com o que vem sendo demonstrado.
Hahahaha….
Menção à “regulamentação de mídia”? Os caras fazem congressos (como a Confecom) desde 2010, falam intensamente do assunto desde 2003, financiam com dinheiro público uma legião de blogs chapa branca que só pedem “Ley de Medios já” o dia inteiro, gastam os tubos organizando ONG’s como Barão de Itararé e Coletivo Intervozes, e o tal do Adghirni vem falar em “menções à regulamentação da mídia”? É realmente o nível dos vídeos do Porta dos Fundos que postei ontem.
Por ora, o que está mesmo dando ao Brasil ares de Venezuela não são os políticos nem o apertado placar presidencial, mas a banalização do ódio, propalada principalmente pelo eleitorado inconformado.
Pronto!
Como todo bolivariano, basta acusar o oponente de ódio quando este estiver denunciando violação à liberdade de expressão, aparelhamento estatal e a corrupção.
A sociedade se deixou dominar pela intolerância. Redes sociais transbordam de aberração. A deslegitimação do “outro” já gera violência física. Sinais de um país dilacerado entre metades surdas e irreconciliáveis. O maior risco de Venezuelização vem de nós mesmos.
No final, temos a chantagem emocional de sempre.
Com um cinismo aterrador, ele parte para o ataque xingando de “intolerante” e “aberração” todos aqueles que denunciarem o comportamento petista, a campanha de esgoto, as técnicas de deslegitimação do “outro” (ou “desconstrução”) e todas as tentativas de golpe.
Uma mídia que não se envergonha de usar recursos como os de Adghirni já nos ajuda a demonstrar o que é morar em um país vivenciando fases intermediárias do bolivarianismo.
Você vai tolerar picaretagens deste tipo de gente contra você?
09 de novembro de 2014
Luciano Ayan

Nenhum comentário:

Postar um comentário