"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

MANTER PADRÃO DOS ESTÁDIOS E SANEAR OS CLUBES

Torcedores tiveram tratamento nos jogos da Copa que precisa ser mantido em competições nacionais. Não é uma revolução, apenas medidas de bom senso

O êxito da Copa, aprovada com nota 9,25 dada pela Fifa, será apenas um diploma pendurado na parede caso o país não usufrua da experiência de ter sediado, durante um mês, o mais visto torneio de esporte do mundo, com jogos em 12 cidades-sede, milhares de turistas e tudo o mais.

Há muito a fazer, desde reconstruir dos escombros a seleção brasileira. Neste aspecto, o legado foi constatar que a desorganização e anacronismo do futebol brasileiro, antes mantidos fora das quatro linhas, também entraram em campo.

Não há o benefício de obras incluídas no projeto da Copa, para melhorar a mobilidade nessas 12 cidades, devido à proverbial incompetência administrativa do poder público. Alguns projetos serão concluídos, outros sequer saíram das pranchetas. Os benefícios, então, ainda demorarão.

Há legados que dependem dos responsáveis pelos novos estádios, dos clubes e federações. Um deles, o “padrão Fifa” de organização de jogos. Impossível não se aprovar o sistema pelo qual compra-se o ingresso numerado pela internet, chega-se ao estádio e o assento adquirido está à espera do expectador. E caso haja alguma dificuldade, haverá pessoas especialmente designadas para garantir que aquilo que foi adquirido seja entregue: a cadeira com aquela numeração.

Não é difícil — ficou demonstrado na Copa. Infelizmente, isso não vem ocorrendo, pelo menos no Maracanã, em jogos do Campeonato Brasileiro. Será muito ruim se um benefício como este — ocupar o lugar comprado —, tão comezinho, não fique para o torcedor como legado. Outro aspecto é a manutenção dos estádios, No Maracanã, por exemplo, aprovado com louvor depois da reforma para a Copa, números de cadeiras já começam a desaparecer, pela exposição a chuvas e ao sol.

A comercialização de ingressos pela internet já tem sido usada por clubes com seus “sócios-torcedores”. E quanto mais for assim, melhor. Além disso, a fim de se ampliar o pacote de benefícios para os frequentadores de estádios no Brasileirão e qualquer outro campeonato, a experiência positiva de abertura de catracas na ida e saída dos jogos, para o metrô e trens suburbanos, deveria levar a estudos que incluíssem o transporte no custo do bilhete.

Não é uma revolução, algo a ser alcançado apenas com um esforço descomunal. Tratam-se apenas de medidas de bom senso, que requerem alguma capacidade de gestão.

Ainda na esteira da Copa, o Congresso poderia começar a aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, pela qual as dívidas (impagáveis) dos clubes — tributárias, com a Previdência — serão renegociadas, à base de juros baixos, cobrados em investimentos de longa maturação. Em troca, devido a punições pesadas aos inadimplentes, os clubes serão induzidos a se profissionalizar.

Esta é a base para qualquer reforma séria do futebol brasileiro. Inclusive para ajudar na melhoria do tratamento aos torcedores nos estádios.

 
18 de julho de 2014
Editorial O Globo

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