"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de julho de 2014

ESTAGNAÇÃO SEM FUTURO

Economia reduz ritmo de crescimento sem que sejam feitos, como contrapartida, ajustes necessários à retomada de ciclo ascendente

O governo baixou nos últimos dias o que parece ser uma derradeira compilação de medidas de estímulo econômico, paliativos de curto prazo que se destinam a evitar acidentes maiores na rota de declínio cada vez mais pronunciado.

Encerram-se assim quase quatro anos de agitação infrutífera, de ativismo que não deu rumo salutar à economia. Um pacote de remendos costurados em uma medida provisória resume a obra desta administração: uma crise latente disfarçada, de modo a evitar estremecimento maior até o ano que vem.

Mais desalentador, o crescimento definha enquanto outros indicadores apontam esgotamento da capacidade de o país avançar.

As estimativas de aumento do PIB para este ano encolhem para 1%, no melhor dos casos. A inflação, por sua vez, flutua em torno de 6,5%, sinal tanto de excesso de gastos públicos e privados como de descrédito quanto à desaceleração dos preços.

O deficit externo não baixa do nível desconfortável de 3,6% do PIB, o maior em 12 anos. Trata-se de outro indicador de demanda excessiva que pode ser financiada no exterior, mas até certo ponto. O país atingiu ou está perto de atingir o limite de gastos dessa natureza.

O deficit público --o excesso de gastos do governo em relação a sua receita-- está no patamar mais alto em cinco anos.

Verdade que o desemprego decresceu de modo significativo, estabilizando-se em níveis historicamente baixos. Mas é uma economia de diminuta produtividade. Próxima do pleno emprego, ocupando a oferta de trabalho disponível, não produz mais: não cresce.

Em resumo, trata-se de uma economia com limitações evidentes de se expandir no curto prazo e que, ademais, dissipa energia sem progresso, em desequilíbrio constante.

Seria compreensível e aceitável, quando não inevitável, um crescimento pequeno devido a correções cíclicas, a um programa de reformas difíceis ou ao impacto de um desarranjo mundial.

Infelizmente, as providências necessárias a fim de administrar tais situações têm seu custo. Mas, se levadas a bom termo, carreiam bônus, a oportunidade de retomada, ao menos de entrada em um novo ciclo ascendente.

Não há propósito nem sentido na presente desaceleração, entretanto. A economia quase estagnada chegará a 2015 ainda com uma carga de problemas para descartar, o que custará, no mínimo, mais aquele ano de crescimento.

 
13 de julho de 2014
Editorial Folha de SP

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