"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 20 de maio de 2014

MAIS SINAIS DA FRAGILIDADE DA ECONOMIA


Depois do pior dos últimos 10 anos para o comércio, com alta de apenas 4,3% em 2013, quando as vendas chegaram a crescer 10,9% em 2010, o varejo continua a apresentar sinais de fragilidade. Em março, o setor registrou seu mais fraco desempenho para o mês desde 2003: uma retração de 1,1% em relação ao mesmo mês do ano passado e de 0,5% comparando com fevereiro último. O resultado certamente pode ser posto na conta do esgotamento do modelo de crescimento baseado no estímulo ao consumo.
Se o governo conseguia impulsionar o comércio com isenção fiscal e crédito farto agora, a retomada da inflação e a subida dos juros - prescrita como remédio amargo para conter a carestia - engolem os incentivos. E ainda tem o complicador do alto nível de endividamento das famílias. Passada a fase da bonança, com todos indo às compras para trocar a geladeira, o fogão e até o carro, ficaram as dívidas, com o orçamento comprometido pelas prestações a pagar e a resistente escalada dos preços.

Março, aliás, foi um mês ruim para a atividade econômica como um todo, com retração de 0,11% em relação a fevereiro. Já na comparação com março de 2013, também houve queda, embora menor: de 0,09%. Seria demasiado otimismo considerar positiva a expansão de 0,29% no primeiro trimestre de 2014. Tampouco dá para festejar os 2,46% de crescimento dos 12 meses anteriores. Não por acaso, a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) prevê que, pelo quarto ano consecutivo, o Brasil crescerá menos do que a média dos países da região, que já são um parâmetro débil.

Como a política econômica não sinaliza mudança - muito pelo contrário, o discurso é o da continuidade - e milagres somente são operados com perversa manipulação de indicadores, resta esperar que tenhamos chegado ao fundo do poço, com o início de ciclo de expansão na sequência. Mas o mercado internacional tampouco dá prenúncios nesse sentido. Mais uma vez, pelo contrário: a crise persiste e mesmo o robusto dragão chinês, um dos principais mercados de commodities do subcontinente, desacelera.

Ou seja, é inexorável: ou o Brasil reage já, ou está destinado à rabeira das economias frágeis. E reagir é fazer o básico, o dever de casa sempre postergado, a começar pelo enxugamento dos gastos públicos. Deixar o combate à inflação por conta exclusiva do Banco Central, com o garrote dos juros, é estrangular o setor produtivo. O país precisa livrar-se, ao mesmo tempo, da carestia e do dinheiro caro.

Para tanto, urge igualmente rever a carga tributária, desburocratizar o mundo dos negócios, tornar plausíveis as regras de concessão de infraestrutura, garantir a sustentabilidade da Previdência, incentivar o investimento produtivo e por aí afora, cumprindo a receita clássica das economias em ascensão. Andar na contramão delas é, por óbvio, escolher o caminho oposto: o da recessão e do atraso.
20 de maio de 2014
Editorial Correio Braziliense

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