"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

DELICADAS TRANSIÇÕES

A economia mundial enfrenta em 2014 delicadas transições. Apesar das favoráveis estimativas quanto a uma reaceleração do crescimento global, o fato é que há enormes desafios a serem superados em diversas regiões do planeta.

A economia americana terá de demonstrar resiliência ante a gradual retirada dos estímulos monetários. As maciças injeções de recursos, as compras de títulos de renda fixa e a derrubada dos juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, elevaram os preços desses títulos, das ações e dos imóveis, aumentando a riqueza, reativando o consumo e reduzindo a taxa de desemprego. A transição de uma recuperação cíclica para o crescimento sustentável nada tem de trivial.

Os europeus continuam sua difícil travessia institucional de regimes fiscais nacionais embutidos em regime de moeda única supranacional. Enquanto o Fed infla os preços dos ativos, camufla as perdas com a farra do crédito e transfere para os contribuintes os custos das operações de salvamento financeiro, o Banco Central Europeu, sob influência alemã, tornou-se a “instância dominante” da teoria dos jogos, forçando os tesouros nacionais a apertar o cinto.


Por quanto tempo abusarão os americanos do direito de emitir a antiga moeda-reserva da economia mundial, o dólar? Por quanto tempo aguentarão os europeus a disciplina exigida pelo euro, candidato a futura moeda-reserva global?

Há também importantes transições ocorrendo na Ásia. Os alquimistas japoneses praticam agora o “Abenomics”, tentativa de transformar papel colorido em riqueza. Os primeiros efeitos são sempre agradáveis. Sobem as bolsas, aumentando a “riqueza”, a moeda se desvaloriza, estimulando as exportações. Nada melhor em meio à guerra mundial por empregos.

Os problemas estarão à frente, quando subirem a inflação e os juros, pois a dívida pública excede 200% do PIB. Já a China tem de transferir para seu mercado interno de consumo de massa o eixo de sua dinâmica de crescimento, hoje sustentada por forte ritmo de investimento em infraestrutura e pela fabulosa engrenagem de geração de empregos lubrificada pelas exportações.

E o Brasil? Nada trivial transformar em crescimento sustentável uma expansão cíclica à base de crédito e transferências de renda já em estágio de exaustão.

06 de janeiro de 2014
Paulo Guedes é economista.
O Globo

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