"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

FUNDAÇÃO - ISAAC ASIMOV (RESENHA)




Existem alguns livros que quando adquirimos o hábito de leitura é quase impossível não nos depararmos ao longo da vida. Quem gosta de Literatura Clássica Brasileira em algum momento da vida vai ler a Trilogia Realista de Machado de Assis. Quem gosta de Fantasia em algum momento vai ler O Senhor dos Anéis (ou pelo menos tentar). Quem gosta de livros Young-Adult com certeza lerá Harry Potter. Quem gosta de ficção científica, em algum momento vai ler Fundação.

Considerada a obra prima de Isaac Asimov, a trilogia Fundação certamente ajudou a definir o gênero de Ficção Científica. Acho até difícil encontrar algum paralelo para a importância dessa obra para o gênero (creio que apenas Duna, de Frank Herbert, e os romances de Philip K. Dick poderiam dividir a prateleira com essa obra). Provavelmente no ramo da ficção especulativa, o prêmio mais importante que um autor pode ganhar é o prêmio Hugo (farei uma postagem acerca desse prêmio nos mesmos moldes que fiz do Nebula ainda esse mês). Pois bem, o prêmio teve seu início em 1953, dois anos após a publicação do primeiro volume da trilogia na forma de livro, em 1951 (ele já havia sido publicado ao longo da década de 40 em revistas). Para corrigir o “erro” de algumas obras fundamentais não terem concorrido ao prêmio, em 1966 a World Science Fiction Society criou uma categoria especial chamada literalmente de “Melhor Série de Todos os Tempos”. A trilogia Fundação venceu essa categoria desbancando a série Barsoom, do Edgar Rice Burroughs (série que se inicia no livro A Princesa de Marte), História Futura, do Robert E. Heinlein e O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien.

“Nunca deixe seu senso moral impedir você de fazer o que é certo!”

Pois bem, mas do que se trata o livro? O livro se inicia com a chegada de um matemático que recém obteve seu PhD chamado Gaal Dornick no planeta de Trantor, capital de um Império Galático de 12 mil anos. Gaal chega a Trantor para trabalhar em um projeto do lendário Hari Seldon, um matemático e psicólogo genial que, unindo as duas ciências foi capaz de desenvolver a Psico-História: Uma ciência capaz de, através de análises históricas, estatísticas e sociológicas, realizar previsões muito acuradas sobre o comportamento conglomerados humanos contendo um grande volume de pessoas.



Hari Seldon, por Michael Whelan.



Através das análises psico-historiográficas de Seldon, ele determina que o Império Galático irá colapsar em cerca de 300 anos e, após esse período a Galáxia enfrentaria aproximadamente 30 mil anos de Barbárie. Seldon também chega a conclusão de que parar o processo de declínio do Império é completamente impraticável, porém seria possível, com bastante esforço, reduzir os efeitos dessa queda. Surge aí A Fundação, um grupo de cerca de cem mil pessoas, em sua maioria cientistas, que deverão, ao longo do próximo milênio, minimizar os efeitos da Barbárie e lançar bases para o ressurgimento da civilização.

A estrutura do livro é de uma “fix-up novel”, uma novela construída através da união de várias histórias menores. O livro é composto de cinco partes e cada parte meio que funciona por si só e nos conta um acontecimento marcante na história da fundação. Os personagens irão mudar, pois essas cinco partes cobrem aproximadamente 200 anos de história, então os personagens que são protagonistas de uma parte, na outra parte serão velhos e na outra parte serão figuras históricas da fundação. O texto é narrado em terceira pessoa e é muitíssimo fluido. A maior parte do texto é composta por diálogos, o que geralmente fornece bastante dinamismo para a história. E mesmo sem lançar mão de extensas descrições, Asimov consegue nos transportar para os ambientes do livro de forma muito fácil: um dos melhores exemplos de “Show, don’t tell.” (Mostre, não conte.) disponíveis.


“As estrelas podem não mudar mesmo em séculos, mas fronteiras políticas são fluidas demais.”

Devido à própria estrutura do livro, os personagens não são largamente desenvolvidos. Em geral tem características bastante marcantes e possuem voz própria. Ao longo da leitura, pouquíssimas vezes precisei reler as falas porque não tinha certeza de quem estava falando, ainda que o livro seja em sua maioria composto justamente de diálogos. Já havia lido críticas duras ao Asimov em relação ao desenvolvimento dos personagens mas aqui, embora não seja a característica mais notável, achei longe de ser ruim. A qualidade dos diálogos do livro é boa também. É um livro que todos os aspectos contribuem para criar o cenário certo na sua mente, dar o tom exato da história.


Artista: Alexander Wells

Ao longo da leitura desse livro pude perceber um fenômeno curioso. Fundação foi meu primeiro contato com a obra de Isaac Asimov e em mais de um momento ao longo da leitura fui surpreendido com um sentimento de “nostalgia” pela história. Se isso não é um atestado do impacto que essa obra teve na formação do imaginário coletivo da ficção científica, eu não sei o que é.

O livro é curto, tem 240 páginas, é uma leitura bem rápida. Li na tradução do Fábio Fernandes, gostei bastante do texto. A edição da Aleph ainda tem um adendo: é a versão revisada pelo próprio Asimov no fim da década de 80. Explico: No fim da vida, Isaac Asimov decidiu organizar todos seus livros de ficção científica em uma mesma linha do tempo. A série Fundação seria uma parte fundamental desse universo unificado. Então ele fez algumas alterações, principalmente em questões de datas, para evitar incongruências. Essa edição é a primeira publicada no Brasil que contém essa adequação.



Edição de colecionador da editora Aleph contendo os três livros em um volume único.

No momento de publicação dessa resenha se encontra em pré-venda, também pela editora Aleph, uma nova edição de colecionador da série. Essa edição conta com um volume único da Trilogia, bem como uma série de ilustrações do artista Alexander Wells. Também está em produção pela Apple uma série de 10 episódios baseada na obra de Asimov para o serviço de streaming da empresa, em uma tentativa de rivalizar com as gigantes Netflix e Amazon. O estúdio responsável pela série de TV foi o mesmo responsável por Carbono Alterado, da Netflix.

Fundação é um clássico quase inigualável da Ficção Científica. Leitura obrigatória para quem é fã do gênero. Recomendadíssimo, tanto para curtir a história quanto para conhecer uma das maiores influências do gênero.


07 de outubro de 2021
Timoteo Potin

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