"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 21 de agosto de 2021

O DRAGÃO DA INFLAÇÃO ESTÁ FURIOSO

O Banco Central (BC) começou este ano estimando que a taxa Selic (taxa básica da economia) se manteria por um bom período na mínima histórica de 2% a.a. 
Ocorre que na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no início desse mês, a taxa Selic foi elevada em 100 pontos base, alcançando 5,25% a.a., de acordo com as previsões feitas pelos analistas do mercado financeiro.

Após o encontro, a autoridade monetária divulgou imediatamente seu comunicado, evidenciando o seu desconforto com a dinâmica recente da inflação e justificando a necessidade de um ajuste tempestivo nos juros.

Na ocasião, também foi sinalizada a possibilidade de mais uma elevação de pelo menos 100 pontos no próximo encontro a ser realizado em 20 e 21 de setembro, com a condição de os juros situarem-se acima do patamar considerado “neutro”, aquele adequado para estimular a economia sem gerar instabilidade na inflação ao longo do tempo.

Nossa inflação está ascendente em função do aumento de custos da energia e dos alimentos, especialmente os combustíveis. Não há dúvida de que comida e energia são dois itens extremamente importantes em qualquer índice de preços ao consumidor, no caso, o nosso IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que norteia a meta de inflação.

A alta da inflação é muito mais de custos, em virtude de a demanda não estar demasiadamente aquecida e ainda situar-se distanciada do ideal. 
Dessa forma, nasceu a curiosidade para conhecer as razões pelas quais o Copom subiu tanto os juros numa única “canetada” e porque já antecipou ao mercado que repetirá, no mínimo, a mesma dose no próximo encontro de setembro.

Na semana passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou a inflação de julho em 0,96% e de 8,99% no período de 12 meses. 
Quanto ao acumulado em 2021, a elevação dos preços é de 4,76% e tudo calculado pelo IPCA. Além da alta do índice em si, o conjunto dos números é altamente preocupante. Segundo o relatório do Instituto, dos nove grupos de produtos e serviços, oito deles subiram no mês passado.

A maior variação (3,10%) e o maior impacto (0,48%) são provenientes do grupo Habitação com a energia elétrica apresentando uma alta de 7,88%. 
Se nos aprofundarmos nos dados divulgados pelo IBGE, chegaremos à seguinte conclusão: o índice “cheio” revela uma inflação de aproximadamente 9,0% em 12 meses. 
Quase o dobro dos 5,25% da meta da inflação, já incorporado o limite superior de tolerância da meta (1,5%) e quase três vezes mais do centro da meta que é 3,75%.

Todavia, se considerarmos somente o subgrupo da Habitação, houve uma alta acumulada em 12 meses de 11,2%. Quanto ao de Energia, analisado isoladamente, apresentou entre agosto de 2020 e julho de 2021 algo como 20,7%, resultados igualmente inquietantes. 
A ata divulgada pelo Copom alerta para a questão dos chamados preços administrados, relacionados com aqueles setores que refletem menos a relação entre oferta e demanda do mercado do que os denominados preços livres.

Isso ocorre porque eles são regulados por contratos ou por órgãos públicos. Como exemplos temos a energia elétrica, os combustíveis e os planos médicos. Evidentemente, o fornecimento de energia elétrica vem passando por uma situação crítica.

Apesar de a economia ainda estar relativamente desaquecida, mesmo assim, o consumo vem crescendo aos poucos. Acontece que as chuvas atrasaram e chegaram numa quantidade menor do que costumam ser. 
Com isso, os níveis dos reservatórios estão baixos e, consequentemente, a geração de energia elétrica diminuiu consideravelmente. Para neutralizar essa perda, é indispensável apelar para a energia térmica, tradicionalmente bem mais onerosa.

De modo geral, isso eleva consistente e estruturalmente os gastos da economia como um todo, pressionando os preços. Jamais poderemos deixar de lembrar que a eletricidade quando está cara não significa somente um problema na conta de luz da família. 
Existem setores inteiros de atividade econômica que têm sua estrutura de custos pressionada.

O que dizer dos combustíveis e do gás de cozinha? A situação chegou a tal ponto que algumas famílias de baixa renda voltaram a utilizar lenha para atender algumas das suas necessidades domésticas.

Diante disso, se o Dragão da Inflação continuar nesse ritmo poderá chegar a um momento em que o BC terá que ficar sustentando os juros num patamar elevado para dominar a inflação, embora a alta de preços não apresente um componente de demanda; na verdade, a inflação está sendo estimulada por uma elevação de custos específicos da economia. 
Infelizmente, o mais prejudicado nesse processo de perda de valor da moeda é o trabalhador de poder aquisitivo mais baixo, que não consegue se proteger contra a corrosão de sua renda.

21 de agosto de 2021
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador

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