Getúlio Vargas – grande nome da história política brasileira – foi o presidente que mais tempo ficou no poder. Cometeu suicídio em 1954.
Getúlio Vargas, um dos grandes nomes da história recente do Brasil, foi militar, advogado e político. Tornou-se presidente do Brasil por meio da Revolução de 1930 e governou de maneira centralizadora, sendo forçado a renunciar quinze anos depois de ter assumido. Acabou cometendo suicídio, em 1954, durante uma intensa crise política.
Vida particular
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, na cidade de São Borja, localizada no estado do Rio Grande do Sul. A família de Vargas, formada por estancieiros, era rica e influente e chegou a ter influência política tanto em São Borja como no Rio Grande do Sul. Seu pai chamava-se Manoel do Nascimento Vargas, e sua mãe, Cândida Dornelles Vargas.
Getúlio era o terceiro filho e tinha quatro irmãos: Viriato, Protásio, Spartacus e Benjamin. Ingressou na carreira militar com 16 anos e atuou em um batalhão de São Borja, mas acabou sendo expulso da corporação com 18 anos de idade. Por causa da possibilidade de um conflito com a Bolívia, em 1903, Vargas ingressou novamente no Exército, mas acabou pedindo baixa no fim daquele ano.
Em 1911, Vargas casou-se com Darcy Sarmanho, filha de um estancieiro gaúcho. [1]
Em 1911, quando tinha 28 anos, casou-se com Darcy Lima Sarmanho, oriunda de uma família tradicional de São Borja (a família de Darcy também era de estancieiros). No casamento, Darcy tinha apenas 15 anos de idade. Desse casamento, nasceram Lutero, Jandira, Alzira, Manuel e Getúlio Filho.
Trajetória política regional
A trajetória política de Vargas começou a nascer quando ele decidiu ingressar na Faculdade de Direito de Porto Alegre, em 1904. Durante a sua graduação, Vargas fez parte do Bloco Acadêmico Castilhista, o que lhe aproximou do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). O candidato apoiado por Vargas – Carlos Barbosa Gonçalves – acabou elegendo-se presidente (governador) do Rio Grande do Sul.
A aproximação de Vargas com o PRR e com o grande nome desse partido no Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, foi extremamente importante porque garantiu a entrada de Vargas na política gaúcha. Em 1908, elegeu-se deputado estadual do Rio Grande do Sul e abandonou sua função de segundo promotor público no Tribunal de Porto Alegre.
Como deputado estadual do PRR, Vargas cumpriu o mandato e foi eleito para um segundo mandato em 1913. Um desentendimento com Borges de Medeiros fez com que Vargas renunciasse ao seu cargo de deputado estadual, só retornando para a função em 1917, depois de ser novamente eleito.
O retorno de Vargas à vida política ocorreu pela reaproximação com Borges de Medeiros. Depois de ser eleito em 1917, foi reeleito em 1921. O novo mandato como deputado estadual foi interrompido porque Vargas foi eleito para ser deputado federal em 1922. Em 1923, estourou uma guerra civil no Rio Grande do Sul e Vargas foi enviado por Borges de Medeiros como tenente-coronel.
Vargas acabou não se envolvendo em batalha e retornou ao Rio de Janeiro, ainda em 1923, para cumprir seu mandato de deputado federal. Em 1926, Washington Luís tornou-se presidente do Brasil e, durante esse governo, Vargas foi nomeado para ocupar o Ministério da Fazenda, posição que ocupou entre 1926 e 1927.
Ainda em 1927, Getúlio Vargas foi escolhido por Borges de Medeiros como seu sucessor na disputa do governo do Rio Grande do Sul. Vargas acabou sendo eleito e assumindo como presidente de estado (governador) em 1928.
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Ascensão de Vargas à presidência
Ao longo das décadas de 1910 e 1920, Getúlio Vargas construiu sua carreira política no estado do Rio Grande do Sul. Só no final da década de 1920, conseguiu projetar-se na política nacional. A Revolução de 1930 levou a carreira política de Vargas a um novo patamar.
Tudo começou quando o presidente Washington Luís resolveu romper o acordo de sucessão presidencial e, em vez de indicar um sucessor mineiro, acabou indicando um sucessor paulista – Júlio Prestes. Isso, naturalmente, enfureceu a oligarquia mineira, que se aliou com a oligarquia gaúcha, decidindo, juntas, lançar Vargas como concorrente de Júlio Prestes.
Getúlio Vargas concorreu pela chapa que ficou conhecida como Aliança Liberal e acabou sendo derrotado por Júlio Prestes. A Aliança Liberal, insatisfeita com a derrota, passou a conspirar contra o governo e iniciou uma revolta quando o vice da chapa de Vargas, João Pessoa, foi assassinado em uma confeitaria em Recife.
Essa revolta, que ficou conhecida como Revolução de 1930, foi iniciada no começo de outubro. No fim desse mês, Washington Luís já tinha renunciado à presidência. Além disso, Júlio Prestes foi impedido de assumir a presidência, e uma junta governativa convidou Getúlio Vargas a assumir como presidente do Brasil provisoriamente. Esse evento marcou o fim do período conhecido como Primeira República.
Vargas como presidente
Quando Vargas assumiu a presidência, ninguém obviamente tinha ideia de que se iniciava um período de quinze anos do político gaúcho na presidência do Brasil. Esses 15 anos são conhecidos como Era Vargas e foram divididos pelos historiadores em distintas fases:
Governo Provisório (1930-1934)
Governo Constitucional (1934-1937)
Estado Novo (1937-1945)
Essa fase da vida de Vargas ficou marcada pelo seu governo personalista, que teve como grandes características: a centralização do poder, a imposição de uma política voltada aos trabalhadores e a capacidade de Vargas de negociação política para manter grupos distintos como aliados de seu governo.
Vargas também realizou alguns incentivos para o desenvolvimento industrial e modernização do país, mas sua trajetória na presidência caminhou para a construção de um regime autoritário. Vejamos alguns dos destaques da vida de Vargas como presidente do Brasil:
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Governo Provisório
No Governo Provisório, como o próprio nome sugere, Vargas deveria ter sido apenas um presidente provisório, o qual organizaria uma Constituinte e uma eleição para eleger um novo presidente. Os desejos de Vargas, por sua vez, não estavam alinhados com os do grupo que o colocou na presidência.
As ações de Vargas foram no caminho da centralização do poder e da imposição de um regime autoritário. O Poder Legislativo foi dissolvido de suas funções a níveis regionais e também a nível nacional, e as iniciativas de realização de uma nova Constituição e, por conseguinte, de uma eleição presidencial foram deliberadamente retardadas por Vargas.
A ideia de Vargas era reformar totalmente o sistema político, de forma a enfraquecer as elites regionais do Brasil e, assim, manter-se no poder a longo prazo. Vargas teve de lidar com a oposição de grupos insatisfeitos com sua política e enfrentou uma revolta paulista na Revolução Constitucionalista de 1932.
Em outubro de 1932, conseguiu assegurar a vitória sobre os paulistas, mas, mesmo vitorioso, realizou concessões que inauguraram uma nova fase do seu governo. Vargas convocou eleição para formação de uma Constituinte, e esta, quando formada, promulgou a Constituição de 1934. Vargas conseguiu prolongar-se no poder ao ser reeleito indiretamente para presidente por mais quatro anos.
Governo Constitucional
Getúlio Vargas e Darci, sua esposa, durante um
O Governo Constitucional, aparentemente, deveria ter sido a fase em que Vargas governaria o Brasil de maneira democrática, mas o cenário radicalizado da política brasileira fez com que o presidente impusesse sua estratégia de implantar um Estado autoritário com o poder concentrado em suas mãos.
Vargas enfrentou a atuação de grupos políticos de orientação fascista, como o integralismo, e comunista, como a Intentona Comunista. Por essa razão, ele acelerou a tomada de medidas autoritárias utilizando-se da justificativa de que elas eram necessárias para conter a “ameaça comunista”. Vargas conseguiu explorar o temor da população com o comunismo para impor seu autoritarismo.
Tudo isso culminou no plano de Vargas para permanecer no poder. Em 1938, aconteceria eleição presidencial no Brasil e Vargas não poderia concorrer à reeleição. Então, Vargas utilizou-se do Plano Cohen, um documento falso sobre uma suposta revolta comunista, para realizar um autogolpe no país. A eleição de 1938 foi anulada, Vargas impôs uma Constituição autoritária e iniciou o Estado Novo.
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Estado Novo
O Estado Novo foi a fase mais autoritária da carreira de Getúlio Vargas, o que fez dele o único civil a governar o país durante uma ditadura. Contou com o apoio do Exército, e seu governo possuía algumas características que o aproximavam do fascismo, embora o Estado Novo não tenha sido de fato um regime fascista.
Vargas tentou, durante esse período, implantar um projeto de modernização do país à força. Qualquer tipo de oposição não era tolerado pelo presidente, que implantou um grande aparato de repressão. A censura era algo importante na manutenção dessa ditadura, e o próprio Vargas criou uma agência que cumpria esse papel – o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).
Nesse período, Vargas também negociou diretamente com o governo americano para que os Aliados contassem com o apoio do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Durante o período do Estado Novo, Vargas sustentou-se contando com o apoio do Exército, mas quando este começou a distanciar-se de Vargas, o presidente foi perdendo poder. O próprio Exército forçou Vargas a renunciar à presidência em 1945.
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Vargas após a renúncia
Depois de renunciar, Vargas não se afastou da política e manteve-se como uma figura presente, preparando o caminho para que pudesse retornar à presidência no momento certo. O primeiro passo foi ordenar a criação de um partido – o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – que orbitaria sobre seu legado político.
Além disso, Vargas aproximou-se do Partido Social Democrático (PSD), apoiando o candidato desse partido (Eurico Gaspar Dutra) à presidência. Vargas acabou sendo eleito senador pelo Rio Grande do Sul pela legenda do PSD. Entre 1946 e 1949, Vargas dividiu seu tempo entre sua casa no Rio Grande do Sul e a política.
Segundo governo e o suicídio de Vargas
Getúlio Vargas em visita a Minas, poucos dias antes de cometer suicídio em 1954. [1]
Vargas montou sua estratégia para a eleição presidencial de 1950 de maneira perfeita. Aproximou-se de Ademar de Barros, um político que tinha ganhado influência em São Paulo, e conseguiu vencer seus adversários, que foram Cristiano Machado (PSD) e Eduardo Gomes (UDN). Foi eleito com quase 49% dos votos.
O segundo governo de Vargas foi, portanto, democrático, e ele tentou governar dentro dos limites constitucionais. Todavia, a oposição da União Democrática Nacional (UDN) fez com que esse período ficasse marcado por crises políticas. Antes mesmo de ser empossado, a UDN já criava obstáculos para o político gaúcho.
Nesse governo, Vargas procurou defender uma política econômica nacionalista que dava prioridade para que a exploração dos recursos nacionais fosse realizada por empresas estatais e que o capital estrangeiro tivesse influência reduzida. Também defendia que o Estado deveria interferir constantemente na economia como forma de garantir o desenvolvimento econômico do país.
Procurou aproximar-se dos trabalhadores como forma de garantir sustentação ao seu governo, mas fracassou. A crise política e os ataques da UDN enfraqueceram o governo de Vargas. Em 1954, um dos opositores políticos de Vargas, chamado Carlos Lacerda, sofreu um atentado e descobriu-se que o mandante era o chefe de segurança do palácio presidencial. Para saber mais, leia: Atentado da Rua Tonelero.
Isso foi um verdadeiro escândalo nacional e amplificou a crise do governo. Vargas ficou acuado com os ataques e os pedidos de renúncia. No dia 24 de agosto, em seu quarto no Palácio do Catete, Vargas atirou contra o próprio coração e, assim, pôs fim a sua vida cometendo suicídio. Deixou uma carta-testamento justificando sua ação e defendendo seu governo.
Em um trecho da sua carta testamento, Vargas fala que:
Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue terá o preço do seu resgate.Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.|1|
O funeral de Vargas mobilizou milhares de pessoas, e o clima de comoção que se espalhou pelo Rio de Janeiro forçou os opositores de Vargas a recuarem. O pivô da crise, Carlos Lacerda, acabou fugindo do Brasil. Depois do suicídio de Vargas, o legado político do varguismo foi continuado por meio de João Goulart, conforme apontam muitos historiadores.
Crédito de imagem:
[1] FGV/CPDOC
Notas
|1| A Carta-Testamento de Getúlio Vargas (1882-1954): genericidade e organização textual no discurso político. Para acessar, clique aqui.
24 de agosto de 2021
Por Daniel Neves
Graduado em História
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