E cá estou eu mais uma vez procurando empenhadamente razões para beber uns goles do otimismo da imprensa ocidental em peso com a “Cúpula do Clima” de Joe Biden.
A primeira sequência de “chefes-de-estado” que vi desfiarem suas promessas ao mundo parecia animadora. Americanos, chineses, calejados europeus, árabes, russos, ilhéus da Oceania, argentinos, tudo parecia uma mesma procissão de santos bem intencionados.
Mas o estraga prazeres que insiste em soprar fatos nos meus ouvidos não saia de lá. A maioria desses “representantes da comunidade internacional” não são isso, repetia ele, são só chefes do crime organizado. E muitos são governantes absolutistas. Gente que como os monarcas da Idade Media, declara-se governante eterno e pune com a morte quem desafia esses decretos. Não dá nenhuma satisfação de seus atos a quem quer que seja dentro de suas fronteiras.
Alguns árabes mandam açoitar mulheres e decapitar oposicionistas em praça pública. Os russos assassinam opositores com dardos radioativos. Os chineses, que têm uma economia tocada a carvão e são os maiores poluidores do planeta (28% do total de emissões venenosas), são também os maiores predadores dos 7 mares com suas frotas pesqueiras semipiratas recheadas de marinheiros escravos. Greta Thumberg não os vê mas eles estão lá e dizimam em escala industrial as últimas populações de animais selvagens do planeta, que são os que, antes das tecnologias que hoje permitem até identificar cada inimigo do partido único no meio de uma multidão numa fração de nano-segundo, ainda conseguiam esconder-se na água. Mantêm um milhão de Uigur’s e ninguém sabe quantos milhões de chineses outros em “campos de reeducação urbanos”, prisões-políticas verticais que se espalham por todas as cidades do país. Entre esses Uigur, quem não morre, mesmo “reeducado”, é “esterilizado”. Quer dizer, a China de Xi Jinping, conforme apuração do insuspeito NY Times, literalmente “pega pra capar” essa parcela da sua própria população porque ela se declara adepta do islamismo que o Ocidente é acusado de perseguir…
Vai por aí a pletora dos horrores deste mundo patrocinados por esses bons senhores preocupados com o grau e meio de aquecimento no horizonte das gerações futuras, que fazem promessas solenes de cuja seriedade convencem absolutamente a imprensa brasileira e internacional ambientalmente engajada.
Xi Jinping mesmo, que só concordou em participar do convescote menos de 24 horas antes dele começar, depois de certificar-se de que Joe Biden seria lhano no trato, disse que “A China está ansiosa para trabalhar com os Estados Unidos para melhorar a governança global. Nós lutamos por uma sociedade mais equilibrada e priorizamos o meio ambiente, queremos atingir nossas metas climáticas … em tempo mais curto que outros países desenvolvidos”. Vago nas próprias promessas foi incisivo com quem foi preciso nas suas: “Vamos restringir o comércio com países que não cumprirem suas metas climáticas”.
Não é para menos. Joe Biden, um dos pouquíssimos governantes do planeta totalmente sujeitos às leis que no seu país são feitas pelo povo, “comprometeu-se” em reduzir suas emissões (15% do total mundial) em 50% até 2030. Isso implica coisas como banir, como ele já se comprometeu a fazer, toda a nova tecnologia de fracking de maciços de xisto que transformou os Estados Unidos de maior importador em maior exportador de energia do mundo, barateando o gás industrial a ponto de promover a volta de industrias que tinham migrado para a China num país que precisa desesperadamente de empregos.
Mas mesmo Biden, com toda a influência que possa ter mediante a criação de incentivos federais, não tem poder para garantir tudo isso. Quem decide essas grandes ações de cunho ambiental, como tudo o mais por lá, é o povo, nas instâncias estadual e municipal. O governo de Nova York, por exemplo, acaba de desenhar um pacote de 3 bilhões de dólares com esse propósito a ser decidido no voto (ballot) nas próximas eleições de 2021.
Finalmente, chegamos a Jair Bolsonaro. A mudança de tom conseguida do presidente brasileiro no tratamento da questão ambiental foi, certamente, a conquista mais formidável da “Cúpula do Clima” de Joe Biden, o que não é pouca porcaria posto que o maior problema do Brasil não têm sido as ações, mas o tom com que Bolsonaro vocifera antes, durante e depois de praticá-las. Para desespero dos apedrejadores domésticos do Brasil, o novo tom da política ambiental, para o meu gosto, esteve próximo de perfeito tanto nas cobranças quanto nas promessas que fez em nome do país que, como ele lembrou, é responsável por menos de 1% das emissões historicamente acumuladas e menos de 3% das acrescentadas à atmosfera todos os anos.
Quanto à promessa de redução a zero de emissão de carbono até 2050 e de 40% do desmatamento até 2030, sou pessimista. O desmatamento no Brasil é, já há um bom tempo, função exclusiva da corrupção. Não tem nada a ver com o agronegócio como gostariam que fosse os apedrejadores domésticos e os fariseus da velha Europa. Só duas pessoas ganham hoje com a depredação de florestas no Brasil: o madeireiro e o político corrupto que o acoberta (além dos que comerciam as últimas madeiras virgens no “mundo civilizado”, luxo que não é pro bico de pais pobre).
A redução do desmatamento no Brasil depende absolutamente, portanto, da redução da corrupção, o que é totalmente insano esperar com esse STF que solta os ladrões e prende as polícias. Redução da corrupção é, histórica e planetariamente falando, função exclusiva do aumento de democracia. E no Brasil a democracia está em extinção.
Das iniciativas de Bolsonaro, portanto, a única que com toda a certeza será cumprida, é a de sempre em se tratando do Estado brasileiro: a do “aumento de recursos” e, portanto, de funcionários indemissíveis e incobráveis acrescentados à legião da privilegiatura.
A questão ambiental, seja pelo viés do aquecimento global, seja por todos os outros, é seríssima. Mas só pode ser endereçada pelo tratamento de sua causa fundamental, que é a superpopulação humana. Enquanto a luta pelo poder – nacional ou global – tiver precedência sobre o controle da natalidade na questão ambiental, continuaremos matando o planeta.
Marcado:aquecimento global, Bolsonaro, controle de natalidade, cupula do clima, desmatamento, Joe Biden, politica ambiental, proteção da Amazonia, superpopulaçao
Fernão repetidamente se refere ao modelo americano como seu ideal de democracia. Tudo bem, estão anos luz à frente de tudo que temos aqui, não vou discordar. Principalmente no que, em princípio, dá ao povo controle sobre o governo. Porém, às vezes exagera, idolizando o que ocorre lá.
Dizer que as leis nos EUA são feitas pelo povo é meia verdade. Algumas são (esse é o lado positivo, que eu gostaria que imitássemos) e outras não. Muitas leis importantes e de grande abrangência são feitas por grandes corporações, através dos seus lobbies legais e de corrupção. O controle do governo pelo povo é “em princípio”, e nem sempre é real.
23 de abril de 2021
vespeiro