"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

UMA DÉCADA PERDIDA

Para se medir o crescimento de um país é fundamental analisar a evolução do seu PIB (Produto Interno Bruto) “per capita”, dividindo-se o total que ele produz em um ano pela população existente no mesmo período. Existem outros indicadores importantes que guardam uma certa relação de dependência com o comportamento do PIB “per capita”: a expectativa de vida, a mortalidade infantil e as melhores condições de saúde e educação. Ele sempre está sendo observado pelos analistas econômicos que costumam acompanhar o desenvolvimento dos países ao longo de anos e décadas.

Nos anos 70, tivemos o milagre econômico, ocasião em que o PIB “per capita” cresceu aproximadamente 79%, em torno de 6% ao ano. Esse desempenho deveu-se a um crescimento contínuo e, praticamente, ininterrupto durante várias décadas. Ao final deste ano, lamentavelmente, estaremos completando a segunda década perdida dos últimos 40 anos.

Caso não tivéssemos enfrentado a crise da covid-19 e o crescimento do PIB “per capita” atingisse sua projeção de 2,5% para o final de 2020, encerraríamos com apenas 1%, deixando bem claro que não é relativo ao exercício e sim referente a toda a década. Durante esse período foram adotados planos econômicos heterodoxos, muita volatilidade política e uma total inapetência em promover reformas estruturantes. Tudo isso gerou um tremendo custo e a conta de 10, 20 anos atrás que já vinha se aproximando sorrateiramente, acabou provocando um estrago significativo.

Para este ano a projeção atual esperada na retração do nosso PIB está em 4,4% e do “per capita” algo como 5,2%. Sendo assim, poderemos fechar esta década com uma queda do PIB “per capita” de aproximadamente 6,5%, bem maior do que na década de 80 que foi de 4%, em meio à disparada da inflação e a calotes da dívida externa. Ela ficou tão famosa que entrou para a história econômica brasileira como a “década perdida”.

Para se ter uma pequena noção, segundo os estudos realizados por um grupo de economistas, nos últimos 40 anos que envolvem o início dos anos 80 até o final deste ano, o PIB “per capita” brasileiro com essas duas décadas perdidas, teria alcançado somente 0,6% ao ano. Segundo eles, se continuarmos nesse ritmo, a sua duplicação levaria 116 anos, consequentemente, mais de um século.

Um dos grandes desafios do País para os próximos anos é elevar o padrão de vida dos brasileiros, dobrando o nosso PIB “per capita” não em 100 anos, porém em 30 anos, isto é, até 2050. Todavia, para que isso se torne realidade, o PIB terá que avançar mais de 3% ao ano até lá, o que equivale a um crescimento para o PIB “per capita”, um pouco acima de 2% ao ano nessas três décadas.

Grande parte desse resultado faz parte do ciclo petista que nos deixou no fundo do poço. Ele é o responsável pela profunda recessão que enfrentamos entre 2014 e 2016, no desgoverno da “iluminada” Dilma, quando o país andou no sentido contrário do mundo. Atualmente, a crise é de âmbito mundial em que todos foram atingidos, sem exceção alguma.

A grande verdade é que no início da década o país quis crescer a todo custo não importando como, aplicando uma política fiscal e creditícia totalmente expansionista. É algo que realmente só se deve fazer quando não houver outros instrumentos, como espaço para redução dos juros o que, na época, era viável. Portanto, a recessão iniciada em finais de 2014, seguida dos anos de baixo crescimento econômico entre 2017 e 2019 e em 2020, com os efeitos da pandemia, comprometeram em definitivo o desenvolvimento da década, o que acabou nos levando ao pior momento econômico da história do Brasil.


10 de dezembro de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador). 

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