Ao longo das últimas décadas, economistas de diferentes escolas de pensamentos eram praticamente unânimes em afirmar que o salário médio dos americanos estava estagnado.
"Os empregos estão voltando, mas os salários não. A mediana dos salários ainda está abaixo de onde estava antes da Grande Recessão de 2009", disse em 2015 Robert Reich, ex-Secretário de Trabalho do governo Clinton.
Com efeito, não é difícil encontrar dados mostrando que o salário real médio dos americanos praticamente não aumentou desde a década de 1970 — dados estes que muitos utilizam para açular a guerra de classes.
Embora tais dados corroborem a tese de que a abolição do padrão-ouro foi a grande responsável pela crescente disparidade desde 1971, o fato é que há muitos problemas com a alegação de que os salários reais (ajustados pela inflação) estão estagnados há anos.
O mito dos salários estagnados
Como o economista Don Boudreaux sempre ressalta, há importantes fatores sendo desconsiderados nesta análise.
Nas últimas décadas, por exemplo, os benefícios não-salariais dos americanos explodiram. Hoje, eles recebem vários tipos de auxílios para deslocamento e para realocação, recebem planos de saúde pagos pelo empregador, recebem cobertura odontológica e oftalmológica, recebem cuidados médicos que também se estendem a seus filhos, possuem participação em generosos fundos de pensão, e recebem do empregador seguro de vida corporativo (há empregadores que pagam as creches dos funcionários).
Há também férias pagas e o direito de se faltar ao trabalho 6 vezes ao ano sem ser descontado. Há lojas que dão desconto a funcionários de determinadas empresas. Tudo isso chega, no mínimo, a 40% do salário do indivíduo (fonte aqui).
Adicionalmente, no geral, os preços de vários bens de consumo importantes desabaram. Coisas como fogão, geladeira, televisão e todos os tipos de sistemas de entretenimento doméstico, lava-louças, churrasqueiras, microondas, forno elétrico, panelas especiais, torradeiras, esteiras de ginástica, aspiradores de pó etc. ficaram 76% mais baratos, em média.
Já os preços de vários utensílios domésticos caíram 81% entre 1960 e 2013 em termos de horas de trabalho necessárias para comprar esses itens.
Ou seja, os benefícios não-salariais (não computados nas estatísticas) dos trabalhadores aumentaram 40% e os preços nominais caíram entre 76% e 81%.
Portanto, a narrativa dos salários estagnados nos EUA sempre foi majoritariamente um mito. Os próprios dados do Federal Reserve (que utilizam um índice de preços ponderado de acordo com mudanças de hábitos de consumo) mostram um substantivo aumento no crescimento dos salários nos últimos anos.
Ainda assim, pelo bem da argumentação, vamos usar os mesmos dados convencionais que estes economistas utilizam para fazer sua argumentação. O resultado, prometo, será surpreendente.
Utilizando os dados convencionais
Se utilizarmos os dados do Bureau of Labor Statistics [equivalente ao Ministério do Trabalho] para mensurar a renda das famílias ao longo das duas últimas décadas, a fotografia de fato fica um tanto mais sombria.
Na verdade, ficava. Agora, não mais.
As estatísticas do governo — que utilizam o Índice de Preços ao Consumidor para mensurar a inflação — mostram que, de 2002 a 2015, a mediana dos salários semanais praticamente não se mexeu. No entanto, entre 2018 e 2020 ela disparou.
O gráfico abaixo mostra os dados da mediana do rendimento semanal real (ajustado pela inflação) de empregados que trabalham em período integral, entre 1999-2020.
Gráfico 1: mediana do rendimento semanal real (ajustado pela inflação) de empregados que trabalham em período integral, entre 1999-2020.
Note que, de 1999 a 2015, os salários não se moveram. Não houve crescimento. De 2015 a 2018, há uma reação. Já em 2019, eles disparam a uma taxa jamais observada nas duas décadas anteriores.
Tal fato já foi observado na grande mídia. Na Bloomberg, o economista Karl Smith descreve o crescimento na renda utilizando uma métrica ligeiramente distinta, a mediana real da renda das famílias.
"Em 2016, a mediana real da renda das famílias era de $62.898, apenas $257 acima do nível de 1999", escreveu Smith. "Nos três anos seguintes, ela cresceu quase $6.000, indo para $ 68.703".
De fato, a mediana da renda das famílias aumentou de $64.300 para $68.700 somente em 2018 — um aumento de $4.400.
Colocando de outra maneira, em apenas um ano, a mediana da renda dos americanos aumentou mais do que em todos os 20 anos anteriores combinados. (A renda das famílias era de $61.100 em 1998 e de $64.300 ao fim de 2017).
Gráfico 2: mediana da renda real as famílias
Observe que, de 1999 a 2016, o valor se mantém praticamente inalterado (em torno de $63.000). E então, há um salto em 2019 (para $68.700).
A causa
A pergunta, obviamente, é por que os salários dos americanos repentinamente explodiram após décadas de crescimento tépido? A resposta não é difícil de ser encontrada.
No ano de 2017, o governo Trump implantou um grande programa de desregulamentações em conjunto com a aprovação de um acentuado corte na alíquota máxima do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica.
Estima-se que as desregulamentações trouxeram uma poupança de $2 trilhões para o setor privado. Mas o corte do imposto de renda sobre empresas foi um fator ainda mais crucial.
Antes de 2017, os EUA possuíam a maior alíquota de IRPJ em todo o mundo desenvolvido: 35%. Esta alíquota superava a da China e até mesmo a da Venezuela. [A do Brasil está hoje em 34%].
Após o corte, a alíquota máxima sobre empresas caiu para 21%, tornando-se uma das menores do mundo desenvolvido.
Consequentemente, as empresas passaram a ter uma fatia menor de seus lucros confiscada. Em outras palavras, as empresas passaram a ter mais capital disponível.
E aí aconteceu exatamente aquilo previsto pela teoria econômica: pagando menos impostos, empresas passaram a ter mais capital disponível para crescer, investir, contratar mão-de-obra e, claro, pagar melhores salários.
Lucros são o que possibilitam as empresas a fazer novos investimentos, a adquirir mais maquinários, a expandir suas instalações e, com isso, aprimorar sua capacidade produtiva. São também os lucros que possibilitam a contratação de novos empregados e a concessão de aumentos salariais.
São os lucros, portanto, que permitem que as empresas contratem mais pessoas e paguem maiores salários.
Quando o governo tributa o lucro, ele faz com que o capital que poderia ser utilizado para contratar mais pessoas e pagar maiores salários seja direcionado para o mero consumismo do governo, ficando sob os caprichos de seus burocratas, obstruindo a formação de capital.
Já menos impostos sobre as empresas, além de permitir mais contratações, também aumentam a recompensa de se assumir riscos empreendedoriais, de se aprimorar técnicas, de se criar novas tecnologias e de se aumentar os investimentos em capital. Isso aumenta a produtividade dos trabalhadores e, consequentemente, seus rendimentos.
Menos impostos sobre os lucros das empresas significam maiores recompensas para se arriscar e para empreender. Isso gera mais contratação e maiores remunerações. Além de beneficiar trabalhadores, os consumidores também são premiados.
Portanto, sim, tão logo a alíquota máxima do IRPJ caiu de 35% para 21%, as empresas prontamente se viram com mais capital disponível para investir, para se expandir, para aumentar a produtividade e para contratar mais trabalhadores (a taxa de desemprego caiu estava nas mínimas históricas até imediatamente antes da Covid-19).
E poucas coisas atraem mais trabalhadores do que salários mais altos.
Com efeito, impostos sobre as empresas afetam muito mais os trabalhadores do que as próprias empresas. Especialistas tributários apontam que aproximadamente 70% do que as empresas ganham em lucros são pagos aos trabalhadores na forma de salários e outros benefícios. Sendo assim, não é de se surpreender que estudos comprovem que os trabalhadores arcam com entre 50 e 100% do fardo dos impostos sobre pessoa jurídica.
A mídia, como sempre, errou
À época do anúncio dos cortes de impostos, a mídia escarneceu da possibilidade de que cortes de impostos sobre empresas pudessem resultar em aumentos salariais para os trabalhadores. Hoje, porém, os dados falam por si: as famílias viram suas rendas crescerem mais rapidamente do que em qualquer outro período de sua geração.
Adicionalmente, embora a mediana dos salários tenha subido, mostrando que os benefícios foram para todos, o fato é que cada segmento da sociedade se beneficiou desses ganhos salariais: o quintil mais baixo teve um aumento da renda maior do que o aumento vivenciado pelo quintil mais alto.
Apenas para deixar claro, a redução do IRPJ não foi o único fator responsável pelo aumento dos salários, mas é provável que tenha sido o maior.
Esse aumento na renda das famílias certamente ajudou a amortecer o impacto da destruição econômica causada pelos lockdowns durante a pandemia de Covid-19, em 2020.
Será mantido?
A continuidade destes ganhos salariais irá depender da manutenção deste corte de impostos. Joe Biden, que pode se tornar o próximo presidente americano, já sinalizou que pretende retornar a alíquota do IRPJ para 35%, ou, no mínimo, elevá-la para 28%.
A sorte é que ele provavelmente não terá votos suficientes no Senado para revogar os cortes de impostos.
Por outro lado, ele parece inclinado a revogar algumas tarifas de importação elevadas por Trump, as quais basicamente representam impostos sobre os consumidores americanos e custos de produção para as empresas.
Se o próximo governo revogar as tarifas e mantiver os cortes de impostos sobre as empresas, a economia americana poderá aumentar os ganhos obtidos antes do evento dos lockdowns.
Essa seria uma fórmula vitoriosa para os trabalhadores americanos, para as empresas e para a economia americana.
Para concluir
Cortes de impostos sempre são benéficos, pois representam uma redução da punição ao empreendedorismo, à assunção de riscos e à contratação de trabalhadores. E ainda aumentam o padrão de vida de todos, ao permitir mais renda disponível.
Com efeito, impostos sobre as empresas afetam muito mais os trabalhadores do que as próprias empresas. Especialistas tributários apontam que aproximadamente 70% do que as empresas ganham em lucros são pagos aos trabalhadores na forma de salários e outros benefícios. Sendo assim, não é de se surpreender que estudos comprovem que os trabalhadores arcam com entre 50 e 100% do fardo dos impostos sobre pessoa jurídica.
A mídia, como sempre, errou
À época do anúncio dos cortes de impostos, a mídia escarneceu da possibilidade de que cortes de impostos sobre empresas pudessem resultar em aumentos salariais para os trabalhadores. Hoje, porém, os dados falam por si: as famílias viram suas rendas crescerem mais rapidamente do que em qualquer outro período de sua geração.
Adicionalmente, embora a mediana dos salários tenha subido, mostrando que os benefícios foram para todos, o fato é que cada segmento da sociedade se beneficiou desses ganhos salariais: o quintil mais baixo teve um aumento da renda maior do que o aumento vivenciado pelo quintil mais alto.
Apenas para deixar claro, a redução do IRPJ não foi o único fator responsável pelo aumento dos salários, mas é provável que tenha sido o maior.
Esse aumento na renda das famílias certamente ajudou a amortecer o impacto da destruição econômica causada pelos lockdowns durante a pandemia de Covid-19, em 2020.
Será mantido?
A continuidade destes ganhos salariais irá depender da manutenção deste corte de impostos. Joe Biden, que pode se tornar o próximo presidente americano, já sinalizou que pretende retornar a alíquota do IRPJ para 35%, ou, no mínimo, elevá-la para 28%.
A sorte é que ele provavelmente não terá votos suficientes no Senado para revogar os cortes de impostos.
Por outro lado, ele parece inclinado a revogar algumas tarifas de importação elevadas por Trump, as quais basicamente representam impostos sobre os consumidores americanos e custos de produção para as empresas.
Se o próximo governo revogar as tarifas e mantiver os cortes de impostos sobre as empresas, a economia americana poderá aumentar os ganhos obtidos antes do evento dos lockdowns.
Essa seria uma fórmula vitoriosa para os trabalhadores americanos, para as empresas e para a economia americana.
Para concluir
Cortes de impostos sempre são benéficos, pois representam uma redução da punição ao empreendedorismo, à assunção de riscos e à contratação de trabalhadores. E ainda aumentam o padrão de vida de todos, ao permitir mais renda disponível.
24 de novembro de 2020
Jon Miltimore
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