© PABLO COZZAGLIO Pablo Martínez faz entrega de presente personalizado
Durante mais de três décadas de bonança no Chile, a classe média se tornou grande, mas nunca forte. Dívidas para completar os estudos, pagar planos de saúde e garantir aposentadorias privadas a tornaram tão frágil que, em três meses de pandemia, muitos terminarão na pobreza.
Os protestos de outubro de 2019 - motivados precisamente pelo descontentamento da classe média - reduziram a renda de muitos pequenos empresários e profissionais e, quando a maioria começava a se recuperar, o novo coronavírus chegou em março.
Com um alto nível de endividamento, facilitado por um acesso permissivo ao crédito e sem auxílio estatal, estima-se que uma fração significativa da classe média chilena cairá na pobreza, devido à pandemia. Outra parcela significativa ficará em uma situação vulnerável.
"Os 10% mais ricos são o único setor relativamente blindado no Chile", diz o vice-diretor do Centro de Estudos de Conflitos e Coesão Social (Coes) e professor da Universidade do Chile, Dante Contreras, que calcula que a pobreza aumentará de 9% para 15%.
A Renda Familiar de Emergência criada para a crise foi pensada para as famílias com renda de até 400.000 pesos (US$ 490), que representam apenas 34% das famílias chilenas. Deixa de fora toda classe média, o equivalente a quase metade da população chilena de 18 milhões de habitantes.
© PABLO COZZAGLIO Pablo Martínez distribui presentes personalizados que faz com sua esposa depois que perdeu o emprego em Santiago
Embora no Chile não exista uma definição padrão da classe média, existe um consenso sobre sua fragilidade
"O que se observa no Chile é uma alta flutuação na renda das famílias. Famílias que deixam a pobreza e famílias que retornam à pobreza. E essa é uma foto da alta fragilidade que torna muito difícil para elas tomarem decisões de longo prazo", acrescenta Contrerasa.
- "Viver ou pagar o aluguel" -
Pablo Martínez, de 44 anos, é um reflexo vivo dessa precariedade. Em pouco mais de um ano, deixou de ser um engenheiro de sucesso, residente em um bairro de classe média alta, para ter apenas o que sobreviver.
Desde que ficou desempregado em março do ano passado, Pablo não encontrou emprego novamente. Nos primeiros meses, consumiu suas economias e seu seguro-desemprego.
Mais tarde, trabalhou como motorista do Uber, mas depois dos protestos de outubro, as viagens caíram muito. Com a quarentena, as corridas praticamente chegaram a zero.
Ele admite à AFP que antes "vivia de forma relativamente confortável" e hoje sequer consegue pagar o aluguel de sua casa.
"É viver, ou pagar o aluguel. Não dá para as duas coisas", afirma.
Juntamente com sua esposa, iniciou um negócio de presentes personalizados, ensina violão e piano online, mas não é suficiente. Não recebe nenhum auxílio estatal.
Na mesma situação está o topógrafo Rodrigo Acevedo, também de 44 anos. Após a paralisação da obra em que trabalhava, ele teve de recorrer à lei de proteção ao emprego. Essa legislação foi criada durante a pandemia, para que os trabalhadores possam acessar o seguro-desemprego, com um primeiro pagamento equivalente a 70% do salário, que diminui gradualmente.
Com um salário de 1.200 dólares, Rodrigo não está qualificado para ajuda de emergência. Com várias contas a pagar, teve de retirar sua filha da escola particular e mudá-la para a pública.
Embora no Chile não exista uma definição padrão da classe média, existe um consenso sobre sua fragilidade
"O que se observa no Chile é uma alta flutuação na renda das famílias. Famílias que deixam a pobreza e famílias que retornam à pobreza. E essa é uma foto da alta fragilidade que torna muito difícil para elas tomarem decisões de longo prazo", acrescenta Contrerasa.
- "Viver ou pagar o aluguel" -
Pablo Martínez, de 44 anos, é um reflexo vivo dessa precariedade. Em pouco mais de um ano, deixou de ser um engenheiro de sucesso, residente em um bairro de classe média alta, para ter apenas o que sobreviver.
Desde que ficou desempregado em março do ano passado, Pablo não encontrou emprego novamente. Nos primeiros meses, consumiu suas economias e seu seguro-desemprego.
Mais tarde, trabalhou como motorista do Uber, mas depois dos protestos de outubro, as viagens caíram muito. Com a quarentena, as corridas praticamente chegaram a zero.
Ele admite à AFP que antes "vivia de forma relativamente confortável" e hoje sequer consegue pagar o aluguel de sua casa.
"É viver, ou pagar o aluguel. Não dá para as duas coisas", afirma.
Juntamente com sua esposa, iniciou um negócio de presentes personalizados, ensina violão e piano online, mas não é suficiente. Não recebe nenhum auxílio estatal.
Na mesma situação está o topógrafo Rodrigo Acevedo, também de 44 anos. Após a paralisação da obra em que trabalhava, ele teve de recorrer à lei de proteção ao emprego. Essa legislação foi criada durante a pandemia, para que os trabalhadores possam acessar o seguro-desemprego, com um primeiro pagamento equivalente a 70% do salário, que diminui gradualmente.
Com um salário de 1.200 dólares, Rodrigo não está qualificado para ajuda de emergência. Com várias contas a pagar, teve de retirar sua filha da escola particular e mudá-la para a pública.
30 de junho de 2020
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