"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 19 de junho de 2018

INDÍCIOS DE UM "DOUBLE DIP" DO PIB

Há um mês que o mercado financeiro enfrenta uma “tempestade perfeita”. Agitado, barulhento, estressado e totalmente pessimista, apresenta cenários parecidos e cada vez mais assustadores, prometendo profundas consequências. O Banco Central (BC) entrou logo em cena, usando sua “mão grande” para serenar os ânimos no mercado de câmbio que vem constantemente desafiando a depreciação do Real.

Desde o início deste ano, notícias inquietantes passaram a contaminar a economia brasileira: a desistência da reforma previdenciária, a decepção generalizada com a recuperação econômica, a exaustiva greve dos caminhoneiros que parou o Brasil, a arriscada transformação do cenário global e os resultados desanimadores das pesquisas eleitorais.

Infelizmente, com isso, a janela de oportunidades para o Brasil começou a se fechar e os resultados para 2018 são sucessivamente revisados para baixo.

Há pouco tempo atrás, eram divulgadas inúmeras previsões para o PIB (Produto Interno Bruto); inicialmente, elas giravam em torno de um crescimento de 3%, agora, estão se acomodando abaixo de 2%. Talvez, por isso, disseminou-se pelos quatro cantos do País uma fatal indagação: “É possível mergulharmos novamente numa recessão?”

Tecnicamente, para se caracterizar uma recessão, é indispensável haver uma queda de dois trimestres consecutivos do PIB. Exatamente como aconteceu a partir do segundo trimestre de 2014 durante o governo de Dilma. Necessariamente, não é preciso que o PIB do exercício exponha uma contração para que se comprove uma recessão, até porque ele pode estar transportando um “carrego estatístico” positivo do ano anterior, o que favorece o crescimento no ano, embora seja considerada a retração nos trimestres.

Em grosso modo, o carrego estatístico facilita que se tenha uma noção do desempenho de uma variável no tempo, de forma a se cogitar se ela não irá crescer nem tampouco se reduzir. Teríamos, portanto, uma variação de 0% (zero por cento).

Nesse caso, pelo fato do PIB ter avançado no decorrer de 2017, chegando ao final de dezembro num patamar superior, isso já proporciona um efeito estatístico positivo para todo o ano de 2018; mesmo que não houvesse crescimento em nenhum trimestre, ele apresentaria uma evolução anual.

Existe uma prática de avaliação em que se aplica um peso maior para a tendência, seguindo o exemplo do CODACE (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos da Fundação Getúlio Vargas), que tem por finalidade estabelecer cronologias de referência para os ciclos econômicos brasileiros. Congrega-se o maior número de informações disponíveis para se construir cenários prováveis e, especialmente, equilibrados.

Mesmo antes das paralisações, o mercado já vinha especulando que o segundo trimestre poderia apresentar um resultado nada animador, portanto, suas consequências ainda estão por vir. É bem provável que o resultado do PIB neste período apresente-se próximo de zero, correndo o risco de uma contração.

Segundo consenso de alguns analistas, num cenário otimista para se crescer 2,0% neste ano, é fundamental que se obtenha uma média de 0,70% do segundo ao quarto trimestre, em função da derrocada esperada para o segundo trimestre. Admitem até que ele se situe em 0% (zero por cento); com isso, o esforço será incrível para conseguir 1,0% no terceiro e quarto trimestres.

Afirmam também que um cenário mais palpável, com um crescimento em torno de 1,5%, irá requerer uma média aproximada de 0,40%, coincidentemente a mesma taxa ocorrida no primeiro trimestre deste exercício.

Para um cenário pessimista, em que cresceríamos próximo a zero daqui até o final do ano, o PIB, lamentavelmente, só conseguirá atingir 1,0%.

Concluindo, eles consideram que esses cenários, com as informações até então disponíveis, foram levados a prever que a conjuntura pessimista é muito mais factível que a otimista, com chances de surgir dois trimestres consecutivos de queda, fortalecendo a hipótese de ocorrer um “double dip” (duplo mergulho) do PIB.

Diante disso, aconteceria um sério impacto na confiança e a economia, obviamente, retornaria a patinar.

Sem dúvida, o fator importante para qual cenário deve se consolidar, certamente será aquele que estiver mais próximo do provável resultado das eleições. Tudo passa a depender de quem vai assumir os destinos da nação, mas as pesquisas divulgadas atualmente não conseguem despertar a mínima esperança nos brasileiros.

Um presidente eleito desprovido de comprometimento para realizar as reformas estruturais, especialmente da Previdência, deverá enfrentar de cara, outra séria crise econômica e, naturalmente, de confiabilidade.

Nesse ambiente de estresse e incerteza em que estamos subsistindo, é natural que o setor produtivo volte a se retrair e só nos resta esperar, pois ele se movimentou relativamente pouco a partir do final da crise.

Evidentemente que em função da intensidade e o prolongamento da recessão, ele conseguiu ser neutralizado, mesmo convivendo com o baixo patamar de juros e com uma inflação dominada; consequentemente, as curvas de juros longos já começaram a revelar acentuada instabilidade.

Pelo visto, o único jeito talvez de se afirmar que este ano estaríamos salvos de uma contração na economia seria por conta de predominar um carrego estatístico mais robusto do que aquele que trouxemos de 2017, mas, correndo um sério risco de se deixar 2019 literalmente comprometido. Se tivermos a infelicidade de elegermos um presidente que não tenha ideias reformistas, acontece que ele será bem diferente do aventureiro Trump, um governante “outsider” que assumiu a economia americana no limiar do “pleno emprego” e bem mais equilibrada do que a nossa.

Por isso, acho importante que os candidatos que estão liderando as pesquisas se posicionem de uma forma altamente transparente, notadamente com a questão fiscal, para abreviar o máximo possível a discrepância da informação.

Para mim, a agenda fiscal está acima dos partidos e vai acabar encurralando qualquer candidato que venha a assumir o País. A grande questão é que o Brasil ainda segue patinando e sem expectativa de retornarmos a conviver num ambiente de uma economia mais saudável e promissora antes de se instalar toda essa turbulência que incessantemente vem se agravando há mais de cinco anos.


19 de junho de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

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