A Folha teve acesso à gravação em vídeo do depoimento prestado por Funaro à PGR no dia 23 de agosto deste ano. O acordo de colaboração foi homologado pelo ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal). Funaro está preso em Brasília.
PROXIMIDADE – Funaro relata a facilidade para repassar a propina já que seu escritório em São Paulo era próximo ao de Temer –100 metros de distância, segundo o delator– e ao do advogado José Yunes, ex-assessor especial do presidente da República.
“O Altair às vezes comentava que tinha que entregar um dinheiro para o Michel. O escritório do Michel é atrás do meu escritório. O lugar onde era localizado o meu escritório era um lugar muito bom para o Eduardo porque era próximo ao escritório do José Yunes, que era uma das pessoas que às vezes arrecadava dinheiro, que ia pegar dinheiro pro Michel Temer”, afirma Funaro no depoimento sobre a atuação do PMDB na Caixa Econômica Federal.
RISCO PEQUENO – O doleiro diz ainda: “Sendo próximo, o risco era pequeno. O cara saía com a mala, ia andando meia quadra e já estava no escritório dele, entendeu. Não tinha problema nenhum.”
Funaro relata ainda que Temer nunca pegou ele mesmo o dinheiro porque “tinha receio de se expor”, mas que o presidente “tinha conhecimento dos fatos”.
“O Eduardo às vezes chegava pra ele e falava ‘pô, precisamos fazer esse favor aqui e em troca disso vai ter uma doação’. No passado isso era considerado ‘ah, deu um dinheiro para campanha’, mas hoje nós sabemos que isso não é dinheiro para campanha. Isso aí é propina. Tem um nome específico. Propina. É a troca do teu poder, prestígio político, influência política em troca de uma doação para campanha, que o cara traveste isso aí de doação. É propina. Não tem outro nome. Propina”, diz Funaro.
BERTIN E GOL – O operador financeiro cita em seu depoimento casos em que teria ocorrido pagamento de propina a Temer. “Você acha que o [empresário] Natalino Bertin ia dar dinheiro para o Michel Temer porque acha o Michel Temer bonito?”, diz Funaro.
Em outro trecho, ele cita a atuação de Temer, então vice-presidente da República, no pagamento de propina em forma de doação eleitoral pelo empresário Henrique Constantino, sócio da Gol Linhas Aéreas, para a campanha de Gabriel Chalita, atualmente no PDT. Na ocasião, em 2012, Chalita era candidato do PMDB à Prefeitura de São Paulo.
“A campanha do Chalita precisava de um dinheiro e o Henrique Constantino tinha um projeto para ser aprovado no FI-FGTS. […] Aí eu pedi pro Henrique Constantino: ‘Oh, precisava de um adiantamento para a campanha do Chalita’. E ele falou ‘tudo bem, mas era bom o vice-presidente me ligar’. Aí eu peguei, passei uma mensagem para o Eduardo. Falei: ‘Oh, pede pro Michel ligar pro Henrique e agradecer a contribuição que ele está dando para a campanha do Chalita’. Não deu dez minutos, o Michel ligou no telefone do Henrique e agradeceu”, afirmou.
TELEFONEMAS – Funaro diz ter visto “diversas vezes o Michel Temer ligar para o Eduardo Cunha para tratar de doação de campanha”, mas ponderou não saber se tratavam de repasses oficiais.
“Não posso falar se essa doação era lícita ou não lícita.”
Em um breve comunicado, o Palácio do Planalto informou que “o presidente Michel Temer não fazia parte da bancada de ninguém”, referindo-se ao grupo de Eduardo Cunha. O governo informou ainda que “toda e qualquer afirmação nesse sentido é falsa”.
O advogado de Yunes, José Luis Oliveira Lima, disse, em nota, que “Lúcio Funaro já faltou com a verdade em inúmeras oportunidades”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Há algo em comum na justificativa de todos os corruptos – sem exceção, eles dizem que são doações de campanha, não se trata de propinas. Por isso, tentaram desesperadamente aprovar no Congresso a “anistia” ao Caixa 2. O mais incrível de todos eles, sem dúvida, é Sérgio Cabral, que afirmou em depoimento ao juiz Marcelo Bretas que jamais recebeu propinas. “Eram sobras de campanha”, disse o ex-governador, que nessa brincadeira amealhou uma fortuna de quase R$ 400 milhões. Era “sobra de campanha” que não acabava mais. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Há algo em comum na justificativa de todos os corruptos – sem exceção, eles dizem que são doações de campanha, não se trata de propinas. Por isso, tentaram desesperadamente aprovar no Congresso a “anistia” ao Caixa 2. O mais incrível de todos eles, sem dúvida, é Sérgio Cabral, que afirmou em depoimento ao juiz Marcelo Bretas que jamais recebeu propinas. “Eram sobras de campanha”, disse o ex-governador, que nessa brincadeira amealhou uma fortuna de quase R$ 400 milhões. Era “sobra de campanha” que não acabava mais. (C.N.)
14 de outubro de 2017
Deu na Folha
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