“Noves fora, zero zero zero” e outras notas de Carlos Brickmann
Nas palavras de Lula, “o golpe (o impeachment de Dilma) não fecha” se ele não for judicialmente impedido de se candidatar
No terceiro dia da Caravana Pelo Brasil, o ex-presidente Lula visita a cidade de Feira de Santana (BA), onde participou do ato em defesa da Agricultura Familiar, no Fórum Baiano de Agricultura Familiar (Lucio Tavora/AFP)
Lula está disposto a tudo para ser candidato – e, ao menos por algum tempo, livrar-se de Curitiba. E, para mostrar a seus adeptos que fora ele não há salvação, admitiu na Bahia a possibilidade de ser impedido de disputar a Presidência (é a primeira vez que fala em público sobre esta hipótese). Seu substituto, disse a Mário Kertesz, da Rádio Metrópole, seria escolhido entre os governadores Fernando Pimentel (Minas), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Wellington Dias (Piauí), e o ex-governador baiano Jaques Wagner. Fernando Haddad, que tenta viabilizar-se como candidato, não é citado: claro, perdeu a reeleição por ampla margem, e no primeiro turno.
Nas palavras de Lula, “o golpe (o impeachment de Dilma) não fecha” se ele não for judicialmente impedido de se candidatar. O risco é alto: Lula já foi condenado em primeira instância, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a nove anos e meio de prisão, e se seu recurso for recusado pelo Tribunal Regional Federal cai na Lei da Ficha Limpa. O problema é que, apesar da alta rejeição (que dificultaria sua vitória no segundo turno), ele é o primeiro colocado nas pesquisas. Os nomes que sugere como substitutos nem foram lembrados pelos pesquisadores. E, depois de Dilma e Haddad, a era dos postes, que só existiam por seu apoio, parece ter chegado ao fim.
Lula está em campanha – oficialmente, “caravana”, porque campanha antecipada é ilegal – por nove Estados do Nordeste. Visita 25 cidades.
…com quem andas
A comitiva de Lula na campanha – quer dizer, “caravana” – inclui Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, acusada de crime eleitoral, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, acusado de improbidade administrativa, e o ex-governador baiano e ministro Jaques Wagner – contra quem o Supremo determinou a abertura de processo, acusado de participação no esquema Odebrecht.
A bainha dos tucanos
O PT pode ter candidatos de menos, mas todos farão o que Lula mandar. Já o PSDB tem candidatos demais, três deles já derrotados pelo PT, outro derrotado dentro do partido quando quis se candidatar; e um que aparece bem, mas que por isso mesmo vem sendo sabotado pelos outros. No PSDB todos são amigos desde os bancos escolares, mas ainda acham que as costas uns dos outros são a bainha para seus punhais. Geraldo Alckmin e Aécio Neves, ambos já derrotados por Lula, vêm conversando sobre como anular João Dória Jr., com prestígio em alta (e com o dobro das intenções de voto de Alckmin, nas pesquisas). José Serra, surrado por Lula e Dilma, quer ser lembrado como candidato e não fala mal de Dória; mas seu aliado José Aníbal fala mal por ele. Tasso Jereissati, atropelado por Serra no PSDB quando quis se candidatar, é o presidente do partido – e mandou sozinho no programa de TV, criticado pelos demais tucanos (entre outras coisas, o programa atacou o Governo, em que o PSDB tem quatro ministérios dos bons). Todos querem derrubar Tasso; aceitam até Aécio de volta.
Ao mestre, com carinho
Mas Aécio teve de se licenciar da Presidência do PSDB quando foi alvo das gravações de Joesley Batista, a quem pediu R$ 2 milhões. Joesley diz que era suborno, Aécio diz que era empréstimo. E o Supremo, a pedido do procurador Janot, analisa a possibilidade de mandar prender o senador.
Outra possibilidade é antecipar para outubro a convenção nacional, que escolherá o presidente. E, inicialmente, antecipar as convenções estaduais. No caso, o favorito para presidente é o governador goiano Marconi Perillo.
O PSDB, como sempre, decidiu não decidir. Vão consultar Fernando Henrique, que não é candidato nem quer ser, para que decida por todos.
Quem parte e reparte…
Todos querem votar depressa a reforma política, mas só para garantir a mamata dos R$ 3,6 bilhões de financiamento público de campanha. Como fica a eleição (distrital, distrital misto, distritão, proporcional), não importa muito. Mas, sem decidir esses detalhes, como garantir já a dinheirama? Os parlamentares estudam qual o sistema que melhor lhes facilite a reeleição.
…fica com a melhor parte…
Na terça, promete o presidente do Senado, Eunício Oliveira, entra na pauta o pedido de urgência para extinguir o sigilo dos empréstimos do BNDES. O projeto é do senador Lasier Martins, do PSD gaúcho; e o PT é totalmente contra, com certeza por motivos técnicos e patrióticos. Lasier Martins cita casos em que o fim do sigilo permitirá que se entenda tudo: o porto de Mariel, em Cuba, empréstimo de US$ 682 milhões; o metrô do Panamá, US$ 1 bilhão. As empreiteiras são as de sempre.
…e conhece a arte
Do portal Quanto Custa o Brasil: lista de deputados federais e senadores em débito com a União.
20 de agosto de 2017
Carlos Brickmann, VEJA
Nas palavras de Lula, “o golpe (o impeachment de Dilma) não fecha” se ele não for judicialmente impedido de se candidatar
No terceiro dia da Caravana Pelo Brasil, o ex-presidente Lula visita a cidade de Feira de Santana (BA), onde participou do ato em defesa da Agricultura Familiar, no Fórum Baiano de Agricultura Familiar (Lucio Tavora/AFP)
Lula está disposto a tudo para ser candidato – e, ao menos por algum tempo, livrar-se de Curitiba. E, para mostrar a seus adeptos que fora ele não há salvação, admitiu na Bahia a possibilidade de ser impedido de disputar a Presidência (é a primeira vez que fala em público sobre esta hipótese). Seu substituto, disse a Mário Kertesz, da Rádio Metrópole, seria escolhido entre os governadores Fernando Pimentel (Minas), Rui Costa (Bahia), Camilo Santana (Ceará), Wellington Dias (Piauí), e o ex-governador baiano Jaques Wagner. Fernando Haddad, que tenta viabilizar-se como candidato, não é citado: claro, perdeu a reeleição por ampla margem, e no primeiro turno.
Nas palavras de Lula, “o golpe (o impeachment de Dilma) não fecha” se ele não for judicialmente impedido de se candidatar. O risco é alto: Lula já foi condenado em primeira instância, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, a nove anos e meio de prisão, e se seu recurso for recusado pelo Tribunal Regional Federal cai na Lei da Ficha Limpa. O problema é que, apesar da alta rejeição (que dificultaria sua vitória no segundo turno), ele é o primeiro colocado nas pesquisas. Os nomes que sugere como substitutos nem foram lembrados pelos pesquisadores. E, depois de Dilma e Haddad, a era dos postes, que só existiam por seu apoio, parece ter chegado ao fim.
Lula está em campanha – oficialmente, “caravana”, porque campanha antecipada é ilegal – por nove Estados do Nordeste. Visita 25 cidades.
…com quem andas
A comitiva de Lula na campanha – quer dizer, “caravana” – inclui Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, acusada de crime eleitoral, lavagem de dinheiro e corrupção passiva, José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, acusado de improbidade administrativa, e o ex-governador baiano e ministro Jaques Wagner – contra quem o Supremo determinou a abertura de processo, acusado de participação no esquema Odebrecht.
A bainha dos tucanos
O PT pode ter candidatos de menos, mas todos farão o que Lula mandar. Já o PSDB tem candidatos demais, três deles já derrotados pelo PT, outro derrotado dentro do partido quando quis se candidatar; e um que aparece bem, mas que por isso mesmo vem sendo sabotado pelos outros. No PSDB todos são amigos desde os bancos escolares, mas ainda acham que as costas uns dos outros são a bainha para seus punhais. Geraldo Alckmin e Aécio Neves, ambos já derrotados por Lula, vêm conversando sobre como anular João Dória Jr., com prestígio em alta (e com o dobro das intenções de voto de Alckmin, nas pesquisas). José Serra, surrado por Lula e Dilma, quer ser lembrado como candidato e não fala mal de Dória; mas seu aliado José Aníbal fala mal por ele. Tasso Jereissati, atropelado por Serra no PSDB quando quis se candidatar, é o presidente do partido – e mandou sozinho no programa de TV, criticado pelos demais tucanos (entre outras coisas, o programa atacou o Governo, em que o PSDB tem quatro ministérios dos bons). Todos querem derrubar Tasso; aceitam até Aécio de volta.
Ao mestre, com carinho
Mas Aécio teve de se licenciar da Presidência do PSDB quando foi alvo das gravações de Joesley Batista, a quem pediu R$ 2 milhões. Joesley diz que era suborno, Aécio diz que era empréstimo. E o Supremo, a pedido do procurador Janot, analisa a possibilidade de mandar prender o senador.
Outra possibilidade é antecipar para outubro a convenção nacional, que escolherá o presidente. E, inicialmente, antecipar as convenções estaduais. No caso, o favorito para presidente é o governador goiano Marconi Perillo.
O PSDB, como sempre, decidiu não decidir. Vão consultar Fernando Henrique, que não é candidato nem quer ser, para que decida por todos.
Quem parte e reparte…
Todos querem votar depressa a reforma política, mas só para garantir a mamata dos R$ 3,6 bilhões de financiamento público de campanha. Como fica a eleição (distrital, distrital misto, distritão, proporcional), não importa muito. Mas, sem decidir esses detalhes, como garantir já a dinheirama? Os parlamentares estudam qual o sistema que melhor lhes facilite a reeleição.
…fica com a melhor parte…
Na terça, promete o presidente do Senado, Eunício Oliveira, entra na pauta o pedido de urgência para extinguir o sigilo dos empréstimos do BNDES. O projeto é do senador Lasier Martins, do PSD gaúcho; e o PT é totalmente contra, com certeza por motivos técnicos e patrióticos. Lasier Martins cita casos em que o fim do sigilo permitirá que se entenda tudo: o porto de Mariel, em Cuba, empréstimo de US$ 682 milhões; o metrô do Panamá, US$ 1 bilhão. As empreiteiras são as de sempre.
…e conhece a arte
Do portal Quanto Custa o Brasil: lista de deputados federais e senadores em débito com a União.
20 de agosto de 2017
Carlos Brickmann, VEJA
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