"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

QUEM TEM MEDO DE SÉRGIO MORO?

Não são poucos os encrencados ou simplesmente citados em delações da lava jato que pedem aos seus advogados para que deem um jeito de tirá-los da jurisdição de Curitiba.

Melhor dizendo, de Sergio Moro, o protótipo do Juiz que, nos interrogatórios, não se altera por nada, trata respeitosamente o acusado num tom de voz suave lembrando cantiga de ninar.

Consta que até antes de estar cara a cara com o temível Juiz, tudo o que o Lula pedia aos seus advogados era para não ser levado para depor perante o Moro em Curitiba.

O medo de Lula de ser preso durante ou após a audiência foi tamanho que a militância petista trazida de ônibus do interior paranaense e de outros Estados, inclusive Minas, não arredou da praça próxima ao fórum, mesmo com chuva caindo.

Antes do encontro marcado com Moro, Lula chegou escoltado por alguns deputados e senadores petistas, subiu ao palanque, discursou à vontade e depois num cotejo rápido seguiu a pé para o seu compromisso.

Quem viu a postura, ora querendo dissimular o medo, ora querendo mostrar firmeza de modo a parecer verdadeiro, não tinha porque concluir que o Presidente mais popular da história, mais do que o grande Getúlio, pai dos pobres e mãe dos ricos, sairia dali preso.

Hoje o Lula, denotando até um certo carinho, trata o jovem Juiz Moro e a nova geração de Procuradores atuantes na Lava Jato como “os meninos de Curitiba”.

Quem parece ainda estar medrando é o PT que, por sua jovem e tarrabufada nova Presidente, esbraveja que o seu partido só aceita para o Lula a absolvição absoluta, total.

Isso é medo generalizado que nem o do poeta que morria de medo não só de que chegasse a hora de entrar no avião, mas também de abrir a porta que daria para sertão da sua solidão. (Belchior, Pequeno mapa do tempo, in Coração Selvagem, 1977).

Quem quando criança não ouviu a canção sobre o lobo mau que pegava criancinha para fazer mingau? Maldade do Braguinha, nosso popular João de Barro, autor dos versos que não lhe deram só fama. Também muito dinheiro.

O medo é uma maldade dos adultos que o inoculam nas crianças limitando-as desde cedo em suas iniciativas. Medo não são o receio, o cuidado, a prudência, que tem carga de responsabilidade.

Medo é o que encurrala e manipula as sociedades contemporâneas fustigadas por extremistas da esquerda e da direita. (Ver Bauman, “Em busca da política”, Zahar, SP, 2014).

O lobo mau sempre fazendo-se passar pela Chapeuzinho ao mesmo tempo sempre a fim da vovozinha deve ter mexido tanto com a cabeça de Edward Albee (1928-2016), quando criança, que já crescido, determinado a ser escritor, revelou-se um dos mais talentosos teatrólogos de sua geração nos anos 1960.

Misto de Millôr Fernandes com William Shakespeare, Albee estreou com a História do Zoológico em que duas personagens se encontram ali, entre feras, casualmente. A conversa descamba para a solidão. Quero dizer, toda e qualquer solidão.

A catarse do medo infantil do lobo mau se realizou com “Quem tem medo de Virginia Wolf?”. Aquele título, de saída, chamou a atenção para a obra da escritora inglesa, até então restrita a pequenos circulos intelectuais e maldita pelas elites conservadoras.

Nessa coisa de dar títulos sem nada a ver com o texto, o Augusto Blum, meu colega de faculdade, sob inspiração do “Missa Convite”, escreveu sua peça nunca encenada – “A redenção dos vuuupts ou quem tem medo de Silvia Teresa?”.

Agora, na segunda instancia, uma sentença do Juiz Moro foi reformada – porque delação por si só não vale como prova, e isso está na lei nº 12.850/13, Art. 4º, Parágrafo 16, que ordena assim - “nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador”. Ou seja, o delator.

Não há sentença terminativa no primeiro grau. Quem é o Juiz que não sabe disso? Mas, afinal, errare humanum est...

O absolvido no segundo grau foi ninguém mais nem menos que um certo senhor Vacari, tesoureiro do PT.


29 de junho de 2017
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

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