"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 6 de março de 2014

COMEÇO DE CONVERSA

 
 
BRASÍLIA - O primeiro ano da morte do presidente Hugo Chávez confirma que não há chavismo sem Chávez. O país, que já vivia uma crise política e econômica, agora está um verdadeiro caos.

A Venezuela não é a Ucrânia, principalmente porque não há duas potências em choque e trocando farpas em público, muito menos com risco de invasões e guerras. Nem por isso a crise venezuelana deixa de ser grave.

Suplantada pela Ucrânia, saiu da mídia norte-americana, mas não das preocupações do Departamento de Estado e, claro, mobiliza Dilma e os demais presidentes da região.

Líderes do Mercosul (Cone Sul), da Unasul (América do Sul) e da Celac (que inclui o Caribe), mais do que emitir notas a respeito, estão trocando intensos telefonemas e discutindo alternativas. A Venezuela em chamas significa incêndio na região num momento internacional delicado.

Com Chávez lá e Lula cá, o Brasil capitaneou uma comissão externa para ajudar o país a deslizar do impasse para algum nível de normalidade. Agora não poderia ser diferente, mas o chanceler Elías Jaua já deu um chega pra lá ao dizer que o país não precisa de mediação externa para problemas internos.

Não pode ser para valer. O próprio presidente Nicolás Maduro tenta minar e reduzir a base oposicionista e já estendeu a mão para setores antes rechaçados pelo chavismo. A ajuda de aliados só ajudaria.

Uma mediação entre Caracas e Washington, aliás, também deveria ser bem-vinda. Apesar de os EUA terem reduzido bastante a importação de petróleo venezuelano em 2013, o país de Chávez e Maduro é um dos maiores produtores mundiais, o Oriente Médio não é confiável e o produto continua sendo essencial.

Um bom momento para colocar tudo isso sobre a mesa será na semana que vem, coincidindo com a posse de Michelle Bachelet, que está de volta à presidência do Chile. Mas só se Maduro autorizar e Chávez abençoar. Com esses dois, nunca se sabe.
 
06 de março de 2014
Eliane Cantanhêde, Folha de SP

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